segunda-feira, 23 de maio de 2016

Narração

teresa burgos
o cenário tem uma beleza narrativa.
ceifa-se a narração fica só

só com si e
com sol.

toda narrativa humana é ínfima
como todo o átomo é ínfimo
e o átomo íntimo é só o que vai guardar
toda a sua narrativa, ó indivíduo.

podes me narrar, podemos nos narrarmos
mas sempre será mais que isto.

depois da embriaguez do vinho,
dos cimos de thc, um milhar de baseados,
pílulas, partículas,
livros e outras miríades narrativas
dê-me ó deus aos teus
o conforto desta ânsia de
por uma molécula dmt
ir ter certeza contigo em teu segredo no
óh, mais alto orgasmo estelar!

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Enxergo a égua parida

michele cunha
enxergo a égua parida
e tudo acende

o mundo trota cabisbaixo
o homem que era tão alto
corcundou

a vaca quer ir lá mas tá a cerca ali
o párida que andar pro norte mas há fronteira lá
o viandante me recusa o livro pois quer pão

não não não
e sim

enxergo a égua parida
e tudo ascende

terça-feira, 3 de maio de 2016

Flores tais

Raymond Booth
oferto flores tais
como tú
que é mais que elas
por dar a elas afeição

sou  aquele que aquém
lhe estende um buquê
de flores não colhidas
cujos
caules deixei à terra
as flores no cimo
soam tão agradecidas

se as arrancasses, deus!
morria o amor que é vivo
por ser nosso
delas
da terra inteira, pro nosso olhar
admirar