sábado, 14 de setembro de 2013

Tecido


Anoitece.
O amor tece o dia seguinte.
O amor cresce e acorda o dia seguinte.
O amor desce para o amanhã.
Anoiteceu. Esse dia o amor teceu.
Se o amor tece a manhã será
(o dia seguinte)
e no dia seguinte o amor entrelaça os tenros fios da urdidura.
Trança a trama. Deita à cama. Dorme o sonho. O levanta.
(que)
Amanhã bem cedo o amor planta algodão.
O algodoeiro cresce e fornece o fino da flor,
o fio prá hora, o amor
o branco tinge
a estampa imprime
outro dia escrito acontecerá.
Sempre será luz o amor ser-vivo.
(para sempre terá a luz o amor, se vivo)
O amor servido fresco no começo da manhã amortece.
O amor tece e esclarece pelo elã de um elegante tecelão.
O amor desce.
Tece ternura na tecitura coronária e dá às mãos veias sobressalentes.
As mãos tramam sobretudo e ternos de bolsos largos.
As mãos entendem.
Guarnecem o primeiro de brilhos, o segundo de ornatos e os estende de presente pro dia que vai.
O amor então se veste como quem também se despe. Cai-lhe bem a tarde. Guarda a luz nos bolsos, carrega consigo o sol. Mostra a lua pro  alento que vem. Sobre tudo cai o lilás e o rosa, o ouro, o azul marinho e o quase breu. O amor se despede ao som da ária do tecelão, repousa e amanhece um feixe de notas, combustíveis pro tear dos dias seguindo.
Todo dia é assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário