- vista ampla de quem voa.
De quem voa e tem visão.
Tínhamos esses pés e aquela força que os mantém retos, rentes, coesos.
Falávamos sobre nunca alar
os pés.
Promessas de não ser asa
a mão.
Como escrever, se com asas?
Como saber se vão ter asas as palavras
se vão ter casas
se são de fincar-se ao chão?
- Talvez fecundem um charco.
Castelos no ar ou manteiga ovo e pão?
Como saber se as palavras vão-se orvalhos
ou carvalhos
ou apenas caem-se cascalhos como flores nos interlúdios? Como?
Necessário ousá-las ouro. Dar-lhes fogo. Soprar e deixar que vão.
Que vão e que irão vastas.
- Vão!
--
Porque já não quero asas, o mundo do ar, das infinitas suspensões e interregnos. Porque preciso de terra e formigas, umidade de chão e charco, folhas caídas, momentos fecundos. Porque em mim estanca-se o tempo de aguadas, as correntes se invertem, os barcos ancoram e se faz hora de remendar redes, pés descalços no agora. Porque preciso reinventar o sonho, costurá-lo miúdo em princípio, alinhavar pequeno, bordar no início, começar de dentro a nova rosa dos ventos.
Patrícia Antoniete
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