quarta-feira, 16 de maio de 2018

Arrebentação


Que venha aqui as palavras ocultas, almejadas e inacessíveis.
Tenho dedos, mãos e toda a extensão de alcançar.
Falta o mundo propício, mas pouco vale reclamar.

Reclamo-as.
E é só silêncio.
Ou um pássaro acolá, às vezes, sempre maior do que vou dizer.

Todo esse verde, todo esse ser
não vai falar nada?


Um cavalo cavalga minha garganta e ainda assim calo.
Ou não digo ou não quero.

Tudo vai passar e talvez retornar.
Baita bruta monotonia este existir pra onde?

Foi uma onda que quebrou. Findou? Retorna ao além mar?
Foi pronde estão os poetas da aurora? De outrora?
Que tragam aqui as palavras ocultas, almejadas e inacessíveis.
Tenho dedos, mãos e toda a extensão de alcançar.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

as ondas

aqui, neste ágora,
as ondas quebravam na praia numa noite de um dia deste.

sábado, 26 de agosto de 2017

trechos de Arco-íris da gravidade, de Thomas Pynchon

"a bicuda ponta do foguete, caindo a quase um quilometro por segundo, absolutamente e para sempre sem som, atinge o seu último hiato incomensurável por cima do telhado deste velho teatro."
08/06/2016
96% (980 de 1024)
"eles são tão esquizoides, tão dúplices na presença massiva do dinheiro, quanto qualquer um de nós, e é esse o duro facto. o homem em um escritório de delegação em cada um dos nossos cérebros. o emblema corporativo dele é um albatroz branco, cada representante local tem um disfarce conhecido como o ego, e a missão deles neste mundo é a Grande Merda."
02/06/2016
92% (940 de 1024)
"eu libertava-vos, se soubesse como. mas cá por fora não há liberdade. todos os animais, as plantas, os minerais, até outros tipos de homens, andam a ser partidos e remontados todos os dias, para preservar uns poucos da elite, que são os mais sonoros ao teorizarem sobre a liberdade,mas os menos livres de todos. nem sequer vos posso dar a esperança de que algum dia venha a ser diferente - de que eles saiam de lá, e esqueçam a morte, e se desfaçam do elaborado terror da tecnologia deles, e parem de usar todas as outras formas de vida sem piedade para manterem aquilo que assomra os homens num nível tolerável - e em vez disso estejam como vós, simplesmente aqui, simplesmente vivos. a estrela convidada retira-se pelo fundo dos corredores."
29/05/2016
86% (880 de 1024)
"quando alguém nos mostra a mais ínfima esperança de transcendência, o comitê para as incandescentes anomalias vem cá e leva-o daqui para fora."

terra oca

acredito em qualquer coisa
e
desconfio de tudo

quero este gato que dorme na terra, sem lençol
não lhe incomoda o vento, lhe esquenta o sol

já à semente basta qualquer cobertor de terra
que ela se assanha pra brotar
de dentro àfora...

aflora dentro, fora
fora com essa gente oca dessa terra fora
mas oca

acredito em qualquer coisa
desconfio deles todos

quinta-feira, 16 de março de 2017

......

A alma segura em sua existência sorri para a adaga desembainhada e desafia seu ponto.
As estrelas devem desaparecer, o sol se escurecer com a idade e a natureza afunda nos anos mas tu deverás florescer na juventude, imortal, ileso, em meio à guerra dos elementos do naufrágio da matéria e do esmagamento das palavras.

Edgar Alan Poe

segunda-feira, 6 de março de 2017

ar arterial

de volta às instancias dos ventos e aos instantes-libélulas, algo soa feliz. a cada passo inspiro e espero. sento, que várias vezes o corpo derrama cansaço. sinto que vez ou outra um sopro eleva e o corpo ergue pronto. enquanto construo este corpo resultado denso dos outros, em que escrevo. eis-me aqui, escrevo. a necessária vazão dos verbos escrevo:
ah que delícia boiar à deriva, catar os presentes do dia. bailar um sonho a noite. me conceba uma dança para que desperte sem invisíveis pesos pros ombros. me proteja e ao meu plexo para que dele soem doces músicas e força de construir cirandas, de rodar crianças, de parir o novo.
sopre sopre sopre esse vento solto. liberto de mim corro, salto, voo. entro nas cores e nas formas. eis que uma delas brilha em miríades outras,,, tons.
escrevo: e quem sabe guardo um pouco de eternidade. gravo de uma ideia o papel. imprimo-na em. visto-me de ventos ventos carregam folhas de lá para cá. leia as folhas daqui pra ti...

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

só por hoje e para sempre


e o amor ilumina novamente
a cidade e a cova do leão
a grande raiva do mundo
as viagens dos meninos-homens

w. h. auden

Alexandra Levasseur

segunda-feira, 25 de julho de 2016

mônada


tudo passa inclusive a gente
mas algo ou molécula
fica pra sempre

domingo, 24 de julho de 2016

numa tábua de esmeralda

O que está abaixo é como aquilo que está acima, e o que está acima é semelhante a aquilo que está abaixo, para realizar os prodígios da coisa única. Assim como todas as coisas foram produzidas pela mediação de um ser, assim também todas as coisas foram produzidas a partir deste ser por adaptação. O seu pai é o sol, sua mãe é a lua. Ele é a causa de toda perfeição por todo e qualquer lugar da terra. O seu poder é perfeito se ele for transformado em terra. Separe a terra do fogo, o sutil do grosseiro, agindo prudentemente e com critério. Eleve-se com a maior sagacidade desde a terra até o céu, e então desça de novo para a terra, e unifique o poder das coisas inferiores e superiores. Assim você possuirá a luz do mundo inteiro e toda escuridão fugirá de você. Esta coisa tem mais força que a própria força, porque ela domina todas as coisas sutis e permeia todas as coisas sólidas. Através dela o mundo foi criado.

Hermes Trismegisto

na terra como no céu



Img.: Martin Hill

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Abertura

Deus, deus!
Como tudo é bonito!
Não, olhem só,
Olhem como tudo é bonito!
Era um grito do seu coração.
Górki

Bailem quando estiverem destroçados.
Bailem quando retirarem sua venda violentamente.
Bailem quando se encontrarem no meio da luta.
Assim, digam e continuem dizendo:
- Teremos caído no lugar onde tudo é arte. 
Rumi



O segredo, de Denise Levertov

Duas meninas descobrem o segredo da vida no inesperado verso de um poema.
Eu, que não conheço o segredo, escrevi esse verso.
Elas me disseram (por um terceiro) que o tinham achado
mas não qual era ele nem sequer qual o verso.
É claro que 
agora, uma semana depois,
 já esqueceram
 o segredo, o verso e o nome do poema.
Eu as amo 
por terem encontrado o que nunca encontrei,
e por me amarem, a mim que escrevi o verso,
e por já o terem esquecido, de modo que,
mil vezes, até que a morte as alcance,
elas podem tornar a descobri-lo,
em outros versos, em outros fatos.
E as amo por 
desejarem conhecê-lo, por presumirem que existe tal segredo, sim,
por isso sobretudo.
Denise Levertov
(postado por Carlito Azevedo no facebook)
http://deniselevertov.blogspot.com.br/

quarta-feira, 22 de junho de 2016

clarividente

pousar as  mãos ao teclado é não dormir com o barulho da complexidade das narrativas. a força imensa do conhecimento. tudo o que tiver de visto, ouvido, lido, falado e escrito vai ficar guardado no grande computador, memória atemporal da natureza, a qual sonho visitar. na dimensão virtual entoei meus livros. um que se chama botânica, outro, floresta. são sugestivos, e frescos. a floresta de agora guarda teus segredos, sinto um desejo folha. quero escrever no tempo das folhas. sei que para ouvir a voz da floresta terei de colher os segredos, e comê-los.
com os olhos de agora, harpia, thc se vê
um vicking em nova york, moondog (têm de conhecer moondog!)
os mendigos leitores imundos inundos
os poetas que sonham abrir cafés de frente pro mar (patti smith)
a dona da hospedaria que tem um rio por detrás e que sonhava com clepsidra acho que era eu.
em 1267 eu morri pois cai da torre de um castelo. achei de uma dignidade.
quero sonhar que sou irmã de giordano bruno, que fui um marinheiro, que converso com saint exupery. imprimo o livro de são joão da cruz, porque seu nome tem um lugar sagrado na escrita da simone weil e na de maria gabriela llansol. acho que irei morrer aos 88 anos como o poeta português antónio ramos rosa. se na minha vila houvesse um padre poeta como josé tolentino mendonça, ia assistir à tudo que ele fala. um padre, poeta, leitor das grandes obras literárias.

minha glandula pineal fabrica dmt quando sonho que voo? ou quando vejo aquelas paisagens num verde indescritível? quem vai me responder esta pergunta? à quem pergunto? à psilocibina? ao terence mckenna, que morreu?
perguntarei à inteligencia alienígena quando estiver pronta.

tenho fumado muito. o tabaco e a ganja me suspendem deste mundo. da forma como ficava suspensa jovem pisando sementes. converso sobre mushroom com o filho iaman. ele chora porque teme que eles queiram ficar comigo assim que descobrirem que gosto de estudar. só agora o entendo melhor. eu vou voltar, filho. e só irei com ajuda xamã experiente.

Diga que as provou

A vida vai te quebrar.
Ninguém pode protegê-lo disto, nem tampouco vivendo sozinho, por solitude a vida irá também quebrá-lo junto com seu anseio. Você tem que amar. Você tem que sentir. Esta é a razão para você estar aqui na terra. Está aqui para arriscar seu coração. Você está aqui para ser engolido. E quando acontece de você estar quebrado ou traído, ou para a esquerda ou ferido, ou a morte chega perto, deixe-se sentar sob uma macieira e ouvir as maçãs caindo ao seu redor, em montes, desperdiçando sua doçura. Diga que as provou como muitos, quantas pode.

Martim
https://soundcloud.com/m-ms

segunda-feira, 20 de junho de 2016

glossolalia da psilocibina

alguns minutos pra escrever
rápido o que houve:
afundei num livro em edição portuguesa
lá flui e aflui e fui
à tona de novo
me trouxe por gritos
e pelo olhar harpio ....... a buscar os pastos
sobre cogumelos
sonho com cogumelos
que a textura é boa, sabor bom
o que me fez lembrar de blake e rilke
e adous huxley e no terence mckenna
outro ahaaaraah. lamento não ali estar o
giordano bruno ou até mesmo o dr. mesmer
cheguei. agora são 4:20
hora de thc e de me incomodar com o pagode à fora
(não pode ser minha esta canção entoada à toa, entornada)
anseio melhor
corro ponho allen ginsberg pra dar seu uivo
lembro de onde vim
tudo bem.

sem tintas não pinto o quadro.
com palavras escrevo um e trago.
ah deus quem dera a glossolalia da psilocibina!
amém. oxalá. virá.