quarta-feira, 20 de junho de 2012

Buscas na fria plenitude o que tens de sobra no teu ninho

Escrever. De repente
rompe-se a solidão.
Quem vem?
Quem me acompanha?
Fique aqui comigo
você que manda e se manda...

Um galo cantou no escuro
um eco tecendo
o balão da madrugada.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Não tenho medo, tenho amor

Acabo de ver o filme
Belo Monte, anúncio de uma guerra
.


Choro muitíssimo, porque sou mulher, feita 90% do mesmo material que os rios e por isso desaguo antes de guerrear. Acho absurdo que enquanto me preocupo em salvar uma abelha que se afoga em meu copo de suco, dezenas de sei lá por qual nome chamar se ocupam com a extinção da vida e sua consequente perpetuação de sofrimentos.

Desculpem, detesto a ira e acredito mesmo que lutar contra um mostro dá-me grande chance de grande mostro me tornar. Por isso antes de minha seta afiar rogo, rezo, grito meu mais alto berro, ajoelho, olho pro céu, peço esclarecimento. Socorro! Certeza que o divino precisa interceder. E que a gente vai merecer.

Não dá mais pra ficar repetindo caso antigo, não vês as ruínas de tudo que já faliu? Estou imensamente chateada. Não sei o que faço. Lavar a louça ficou ridículo. Só choro depois disso. É que dentro de mim passa um rio e toda a liberdade que nada nele. Neles. Seja Xingu ou São Francisco. São minhas veias. Somos todos isto. Mas meu dinheiro não é esse, não como peixe podre nem quero a sua energia suja. Já fui pescador, porra! Já fui índio, merda! Não aguento mais guerrear. Que não seja preciso. Se for... Não tenho medo, tenho amor.

Fotos de Renata Marangoni


Parem 
Por favor 
Por deus
Por nós
Por tudo
Por vocês

Que assim seja. Assim será.

Oxalá amém.

Para ver o filme:
www.belomonteofilme.org/portal/br


terça-feira, 5 de junho de 2012

Histórias de vênus, vacas e formigas: pra boi.

Histórias de vênus, vacas e formigas ouvi dizer:

À deus peço nada que tudo tá já concebido.
A vaca por nós passou, na estrada que corta a floresta dos macacos. Passa vida, passa ela, rebolaaaaando sua paridez eliptical de um bezerro, numa desenvoltura corporal de desventura celestial, subindo a ladeira que é chão que levanta. Prosseguir é algo que sou e rememoro. Reminiscênte confiança, mesmo que (ainda) um olho meu humano desconfie.
(Re)Torno à vaca, à confiança.
Do sapo escuto sapiência.
Do rio das bananeiras vejo um fluir de (v) ir que sorri, assim.


Sabemos que para que uma formiga vire algo maior deve deixar de ser formiga. Pisei  numa, ao acaso.

Aos olhos infantis freiras são meras fantasias de alguém que vai ser muito feliz dançando o carvaval. Crianças já nascem esperança. Assim vejamos, sempre. Sempre vacas livres, transeuntes das estradas que servem de travessuras aos macacos e travessias para o caminhar. Detesto a palavra fronteira. Por hoje vi um homem morto, ontem
*
Vi a vaca e
A vaca viu-me.
Vi detalhadamente a vaca. 
Do rabo, às pintas, olho no olho e a lingua...
Não sei o que a vaca viu de mim. 
Vaca não fala, mas tosse sim!
Foi sem pensar que senti vontade de respirar vacamente, relax. Abri o (c)por(a)t(ç)ão e adentrei seu espaço sagrado de grande animal (podia ser uma sombra qualquer, mas nesse momento era árvore de jamelão, pintura roxa para a língua). À vontade, em distraído eStar, encostei minha face em sua barriga de manchas num respirante vem-vai. Ali repousei. 
Nem sei por quanto tempo. Nem era eu. 
Era vento. Era quente. Era feito do mesmo material que a gente.

Era a paz o acorde cosmonauta.

* Depois disso:

Pensar no que estou fazendo fica impossível quando todo o desejo de ação está destinado a seguir o rastro do sorriso que ficou. As marcas que têm o canto dos olhos que melhoraram meu ver. Ser eu, agora, é ser você, separado e associado. Ligado.

A palavra Eu modificada permanece original** (enquanto) eu estou ligado à você*** que é quando eu

Penso no que estou fazendo, desejo o que se estou fazendo e realmente faço o que está se fazendo. Presença e presente! Traga já a tua ausência pra perto da minha essência. Só assim terá existência: o amor.

Pensar no que estou fazendo só é possível quando todo o desejo de ação está desocupado de seguir o rastro dos sorrisos que dera. Ficou a marca no canto dos olhos que melhoraram os meus. Ser eu, agora, é ser você separado. Palavra eu modificada, original, ligada à palavra você enquanto eu pensar que sim. Sonho vou sempre ser, projeto. Lá vou eu atrás de você com muito amor na frente e luz no teto. Com o 

Coração atrevido, as pernas de curioso
Os olhos de bem-te-vi e o ouvido de boi manhoso


No caminho vou convivendo com adversidades. 
Com as vacas vou cruzando e delas vou melhor corporificando a associação integral. 

A runa sorteada foi Gebo (uma dádiva). Ainda vou me beliscar pra crer e ver.

Afinal, tudo pode acontecer. 
Deixa a vida acontecer.
O mundo não precisa nem saber***.

****
Escrito no dia da
passagem de vênus entre
o sol e a terra e continuado.











* Com livre inclusão, citação de:

*Oscar Quiroga  |  ** José Paes Lira  |  *** Arnaldo Antunes  |  **** Renato Teixeira

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica

Manoel de Barros - trecho de Mais novo poema
Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças! Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens. Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar. A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra. Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.