quarta-feira, 20 de junho de 2012

Buscas na fria plenitude o que tens de sobra no teu ninho

Escrever. De repente
rompe-se a solidão.
Quem vem?
Quem me acompanha?
Fique aqui comigo
você que manda e se manda...

Um galo cantou no escuro
um eco tecendo
o balão da madrugada.

  
Eu também canto e costuro
palavras entretecendo
noves fora nada.

Hoje.
Eu não passo daqui.
Memórias.
Mariposas.
Murmúrios.
Hoje sonhei que dormia
um sono profundo
um sonho sem som
sem luz sem eu.
Era a sensação de uma morte costumeira
ou era uma vez uma vida inteira.

Saturo de sonhos
sentidos
mitos
interpretações, miragens, milagres, acasos
ilusões
labirintos.

Quero a coisa que tem nome
como o céu e azul
e superficial.
Pode amanhecer, pode escurecer
podem brilhar as luzes do sol
o céu e azul e só.

Quero a poesia concreta
— não aquela.
A poesia da
poesia q soa
poesia q sibila
poesia.

Deus é o limite.
— Fale, Deus, fala!
Mas Deus não são eus
e não escuta poesia
só quer saber se eu
estou com tudo e o todo em dia.

Oh Deus salve o oratório e a oratória
Deus salve a glória e a gloríola
e a corruptela da palavra vazia
que é dela o reino dessa terra
por onde perambula esse rêi
com acento circunflexo.

De repente Deus responde:
"Que queres tu, Zezinho
que queres que eu te conte?
Que tu viajas num barquinho
sobre a linha do horizonte
equilibrando-se ali sozinho
sem ter porquê nem por onde
com medo de um redemoinho
que está fora do meu controle?
Ora! Tu perfazes o caminho
devaneio viandante
entre o nascimento e a morte
colhendo rosas e espinhos
conforme a natureza da sorte
­—que novidade há nisso, menino?
Invocas um avalista do meu porte
pra recordar-te que o destino
rege a instância dos homens?
Não perscrutes o divino...

Agora me ouve
chega aqui pertinho:
tua luta não me ilude
tu queres é o carinho
e buscas na fria plenitude
o que tens de sobra no teu ninho.

Tudo em inho, tudo em e.
É fácil escrever
como vaga o vaga-lume
como louva o louva-a-deus
dá na mesma...
– dá nada!

Danada é minha filha
que me disse uma vez:
nem tudo vai ser
quando eu crescer
e o filho dizendo que
antigamente ninguém nascia...


Filhos pequenos
isto é um poema
fruta-pão
que eu lhes dou
de todo o
coração.

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