quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Nenhum rosto sem o outro

Esconder o rosto é mostrar o feio da realidade que não queremos ver. É mostrar ao outro que podemos ser ele. Que somos ele e somos todos. É mostrar que a cor da face já não importa. E nos negarmos a mostrar brilhar os olhos quando não lhes podem ver. É prescindirmos da boca e suas palavras se não podemos sorrir. É estar saturado do que não tem brincadeira. É silêncio e é não dar a cara a tapa mas é deixar os braços livres e ter mãos à mostra e prontas caso sejam úteis. É calar a expressão do indivíduo diluído em lato. É dar-se um véu-denuncia da ilusão cotidiana. É o gesto sem passado que sustenta a cara nova que pode o mundo. Neste sentido é arte inédita. Hoje, ocultar é maior que mostrar a beleza roubada pela desconfiança. No entanto é potência e possibilidade da beleza pairar. Esconder o rosto é alar o rosto. É acreditar que o outro por baixo do pano sorri sorriso que não se envergonha de si e que partilha a lágrima emocionada. Lá há o brilho que se enxerga de olhos fechdos. Dentro da boca vendada mora a palavra que ainda não se disse. Tão nova vai se soletrar quando os panos puderem cair naturalmente.

Por enquanto 

coração não force para fora 
queira não abrir a vontade.

Espere passar os homens que procuram por um apartamento com varanda gourmet.
Espere.
Sempre chegamos ao outono. Histórias e lendas surgem dos homens com pássaros.

Ponho a boca a boca no topo do himalaia. Cubra teu rosto comigo.
Esperemos batendo um longo papo com o espaço. Rio de ouvir o diálogo dos planetas do sistema. Logo, dê crédito para o amanhã. Ainda não anoiteceu.

Img.: Rene Magritte

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