Meu bem, não posso ir.
É que
um novo cacho desponta por mim.
As bananas, elas também, querem-me com toda a fome e amarelam.
E é
com amor e canela que as comerei, uma a uma e por fim todas
e só depois à ti.
Ó, se aperreie não.
Coma arroz e feijão.
Mais um feixe de luz e eis-me nua e tua.
Nos comeremos e a tudo.
Abocanhemos todo o tempo.
Outra dentada.
Mais mel.
Uma delícia.
sábado, 21 de junho de 2014
terça-feira, 10 de junho de 2014
O olho dentro do instante
Sei donde matracam os pensamentos.
A cabeça guarda em seu antigo um datilógrafo cuja máquina custa papel e tinta a esgotar. Dera-lhe que desse um tempo, ao menos, de ir à papelaria reabastecer-lhe, olhar as ruas, as meninas, o banal. Mas não, nem isso. Ei-lo cá a pincelar possibilidades ordenando mundos à aparência, mas não só. Prevê probabilidades, incrusta númenos na matéria, ministra escrituras no ar... então volta a forçar o número a cravar-se na matéria, urgi-lhe nome próprio, ungi-la de óleo raro, modelando, qual um deus, compondo cenas que virão nos cumprir. Não deus ainda, mas dentro de um deus desses, maior. Dentro do cérebro de um deus desses; ou ainda melhor, de seu coração. De alguma forma o corpo do escritor acha-se dentro do corpo de deus. Isto dou por certo, eu, que me chamo escritor e que agora achei donde matracam os pensamentos: da inquietude desse deus, corpo enorme, natureza; que fez à todos, as tardes, ao mundos com seus fundos de demais dimensões. E ainda pradarias, profundo mar, veredas e por cima a superfície toda que não dá pra ver e ainda assim há. De tanto tudo pensar pôs logo pôr ânsia tudo à existir. Frutos da urgência de deus fomos e somos e assim nascemos com fome e força. Foi assim toquei, com fome e força, a raiz destas coisas que escrevo e dei por dar um passo no corpo que deus usa pra ser.
Por isso é. Deus e as matracas escrituras.
Livros em fila, cadeiras e outras nossas criaturas.
É escritor e escreve pois não consegue calar. Não consente aprisionar palavras, quer-lhes soltas, extensas. Uma vez externas, passa a escalá-las e aí é uma ginástica só. Num salto danado apraz no papel esboços de exaltação, com quem tenta agarrar um mosquito. Toma elementos e letras, sopra-lhes vida, sabe fazer surgir por alquimia ou pura vontade volútil, alguma volátil criação. Tátil ou não. Densa ou não ainda, mas já existente ao sentido apurado da escrita. Herda a vastidão que há no terreno da imaginação; logo, pode em seu projétil* de pensamentos, aves de matéria do mistério que não se vê, olhar as mãos e se espantar.
Mãos de amassar argila. Moldar ou não ainda. Essas mãos. Essas mãos molhadas.
Que faço com elas, deus donde venho? Ei-las. Eis-me.
* Corpo ao qual, em consequência de um impulso, pode ser comunicada velocidade e dada determinada direção.
A cabeça guarda em seu antigo um datilógrafo cuja máquina custa papel e tinta a esgotar. Dera-lhe que desse um tempo, ao menos, de ir à papelaria reabastecer-lhe, olhar as ruas, as meninas, o banal. Mas não, nem isso. Ei-lo cá a pincelar possibilidades ordenando mundos à aparência, mas não só. Prevê probabilidades, incrusta númenos na matéria, ministra escrituras no ar... então volta a forçar o número a cravar-se na matéria, urgi-lhe nome próprio, ungi-la de óleo raro, modelando, qual um deus, compondo cenas que virão nos cumprir. Não deus ainda, mas dentro de um deus desses, maior. Dentro do cérebro de um deus desses; ou ainda melhor, de seu coração. De alguma forma o corpo do escritor acha-se dentro do corpo de deus. Isto dou por certo, eu, que me chamo escritor e que agora achei donde matracam os pensamentos: da inquietude desse deus, corpo enorme, natureza; que fez à todos, as tardes, ao mundos com seus fundos de demais dimensões. E ainda pradarias, profundo mar, veredas e por cima a superfície toda que não dá pra ver e ainda assim há. De tanto tudo pensar pôs logo pôr ânsia tudo à existir. Frutos da urgência de deus fomos e somos e assim nascemos com fome e força. Foi assim toquei, com fome e força, a raiz destas coisas que escrevo e dei por dar um passo no corpo que deus usa pra ser.
Por isso é. Deus e as matracas escrituras.
Livros em fila, cadeiras e outras nossas criaturas.
É escritor e escreve pois não consegue calar. Não consente aprisionar palavras, quer-lhes soltas, extensas. Uma vez externas, passa a escalá-las e aí é uma ginástica só. Num salto danado apraz no papel esboços de exaltação, com quem tenta agarrar um mosquito. Toma elementos e letras, sopra-lhes vida, sabe fazer surgir por alquimia ou pura vontade volútil, alguma volátil criação. Tátil ou não. Densa ou não ainda, mas já existente ao sentido apurado da escrita. Herda a vastidão que há no terreno da imaginação; logo, pode em seu projétil* de pensamentos, aves de matéria do mistério que não se vê, olhar as mãos e se espantar.
Mãos de amassar argila. Moldar ou não ainda. Essas mãos. Essas mãos molhadas.
Que faço com elas, deus donde venho? Ei-las. Eis-me.
* Corpo ao qual, em consequência de um impulso, pode ser comunicada velocidade e dada determinada direção.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Ainda não (sobre as tangibilidades)
Era e é.
Foi-se e será.
Que mais vai se dar?
Volátil ouso ser.
As dunas são volúveis.
Se morrer vou tornar a ser uma.
Uma vida dedicarei a ser nuvem.
Ainda não sei em qual.
Ainda não sei miríades.
Ando e singro à esmo.
Ainda não pasmei.
Já plasmei:
palmeiras, troncos, corredeiras.
Cordilheiras são de fato imóveis e tangíveis.
A falta de experiência é experiência das mais difíceis.
Tudo é acontecimento. A falta acontece e é de fato.
O silêncio está profundo e fala alto.
Vou sair de mim e volver águas.
Volto. Esta subjetividade é tangível: pegue.
Foi-se e será.
Que mais vai se dar?
Volátil ouso ser.
As dunas são volúveis.
Se morrer vou tornar a ser uma.
Uma vida dedicarei a ser nuvem.
Ainda não sei em qual.
Ainda não sei miríades.
Ando e singro à esmo.
Ainda não pasmei.
Já plasmei:
palmeiras, troncos, corredeiras.
Cordilheiras são de fato imóveis e tangíveis.
A falta de experiência é experiência das mais difíceis.
Tudo é acontecimento. A falta acontece e é de fato.
O silêncio está profundo e fala alto.
Vou sair de mim e volver águas.
Volto. Esta subjetividade é tangível: pegue.
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