sexta-feira, 17 de abril de 2015

Sobre isto de ler e não se estar aqui

img.: Alain Laboile
Acontece que o poema me deu o mundo possível que não se vê em realidade.
Aconteceu do poeta morrer mas deixar-me a ler livros e possibilidades intocadas
dessas inócuas:
- como a blusa deitada ao lado por me apertar os seios

- como o peso atirado ao alto ao ar
a metamorfosear-se.
ah! não pode ser minha a canção entoada à fora à toa à força - esta bobagem.
O poema sim devolve-me.
Melíflua. Sim, esta sou eu.

A toada entornada pelo poema escorre
melíflua. Simples por toda vida toca o cerne até dizer o que não dá
pra dizer.
Dizer não diz mas se dá a quem insistir entender.

Quando a superfluidade desvai, ali se voa. A eternidade do cimo dali - tão bom.

Acontece que o poema é meu e dele sou eu e agora é assim.
Minha casinha de gomos de palavras, com capas de roupas soltas, recheios de verbos de mel, lambidas de sol à tarde, orelhas postas de peixe à mesa e coisas demais que não dão pra ver. Vai saber...
Posso morar aí. Não estranhes de não me ver. Flano junto ao poeta amigo meu que já gosta de mim.
Temos um poema em comum, já disse. Ele que escreveu. 

Não só pra mim. Pode ser seu. Vai querer? Eu só peguei pra mim - tão bom.

Flutuo já na claridade desta casa que ganhei pra flanar pelo poema.
É minha. Morei.

Tão bom.

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