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Parabenizara uma autora e nossa prosa caiu num dilema gramatical surreal.
Quis saber como editou, se esquivou. Ok. Resolveu, no seu ego de autor, aconselhar-me a não tratar minha obra por "livrinho" (tinha lhe falado que fizera um livrinho). Mas é um livrinho, pequenino, 33 páginas, magrinho, magrinho.
- Não, esta palavra não pega bem. Diminuiria o meu livro.
Sim, ora vejam! O livro diminuto é o livrinho.
Uma prosa que começa com admiração terminar nesta discussão cheia de amarras nomenclaturais. Ora.
- Ah vais ler Guimarães Rosa! - não disse eu.
Mas não deixou de dizer-me que tinha um livro a 20 reais, revisto & revisado, disponível ainda e que, que sorte, amanhã ia estar na praia fazendo umas leituras, e chamou à mim que nem moro ali e que levaria horas pra lá chegar. Que trabalhou aqui, que trabalhava lá... Ai, que inveja, só que não, fui sentindo. Eu, que nem editara ainda o meu livrinhozinho. Fiquei mudinha, miúda, pensando como chamar esta coisa de papel então que fiz. Pra terminar de forma amigável, dado até por ter descoberto que a dita era amiga de minha mãe, cedo.
- Que tal livreto?
Também não. Já lhe disseram que não soava bem. E ela concordara. Porra, eu que achei livreto assim tão leve e livre fiquei triste. Mandei até a definição do dicionário (http://www.dicio.com.br/livreto/ - s.m. Livro pequeno) e ela se ofendeu pois é claro que conhecia bem a palavra, e ai... Ai. Despedi-me e junto foi embora toda minha admiração.
É isso, são essas as coisas do ego. O espírito nada tem com isto, graças à deus mesmo, e é por ele quem escreve com auxílio da mão humana, se é que o que emana é poema. A dita nada tem com sua poesia - essa parte dela que gostei. Nem esta minha menina que birra por não lhe editarem e que quer chamar sua obra como bem lhe aprouver e que acha um absurdo não estar ainda dentro de uma grande editora, com uma capa reverberando e um delicado projeto editorial, com arabescos aramaicos, etc e tal. Dou nisto o meu suor: escreveria palavras quando se amam em som - e concordâncias sutilíssimas, amplexos gramáticos que quase dariam concerto ao mundo e continuaria escrevendo, crendo e tracejando planos de arado numa mesinha de um calmo café com varanda para Portugal, caso um provável editor bem quisto me desse uns euros pra isto.
Mas oi, me trago ao real pois me apraz o sopro zéfiro ao ouvido, é este meu espírito que me elegeu casa quando às vezes me toma assim, à rédea da redoma. Eu xingo, ele não. (Imagina, nem cú nem plexos ele tem). Ele me atira do pedestal e se preocupa com como ou onde meu corpo vai cair. Filho da Santa! Ele é cândido, claro mais pro translúcido e nos quer iguais à força por sermos uno. Vai querer todo mundo de mãos dadas e de corpos nus. Nada da sua matéria sutil toca essas flutuações densas que ditam regras - pra não usar o verbo cagar. Vou tomar banho pra livrar as imundícies ao ralo e à raiz e cheirosa dar um abraço de língua na Adélia Prado. Como António Ramos Rosa e Arsênio Meira Júnior tiveram coragem de morrer? (Quero coragem ao morrer.) Querubim, leve até eles um livrinho meu assim. Voltem meus poetas. Voltem. Estou só. Há poetas brigando por palavras, venham ver. Dói saber. Dói no espírito, porque a palavra hoje solta foi foda-se. Um poeta disse foda-se a outro poeta e o espírito fugiu.
Assim é a saga deste meu terceiro livro impublicado ad infinituuum. Que faço dia a dia, que me tira a lembrança da fome, que me esquece a sensação do sono, esse sonho. Caminhando material (espero que de mão à mão e pelo tempo), feito no corte do estilete, na unha vincado, com laço azul turquesa (pois gosto de mar) e que mando a cada um que topo e tem uns que nem irão ler. Mas outros sim. E que germina assim:
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