quarta-feira, 22 de junho de 2016

clarividente

pousar as  mãos ao teclado é não dormir com o barulho da complexidade das narrativas. a força imensa do conhecimento. tudo o que tiver de visto, ouvido, lido, falado e escrito vai ficar guardado no grande computador, memória atemporal da natureza, a qual sonho visitar. na dimensão virtual entoei meus livros. um que se chama botânica, outro, floresta. são sugestivos, e frescos. a floresta de agora guarda teus segredos, sinto um desejo folha. quero escrever no tempo das folhas. sei que para ouvir a voz da floresta terei de colher os segredos, e comê-los.
com os olhos de agora, harpia, thc se vê
um vicking em nova york, moondog (têm de conhecer moondog!)
os mendigos leitores imundos inundos
os poetas que sonham abrir cafés de frente pro mar (patti smith)
a dona da hospedaria que tem um rio por detrás e que sonhava com clepsidra acho que era eu.
em 1267 eu morri pois cai da torre de um castelo. achei de uma dignidade.
quero sonhar que sou irmã de giordano bruno, que fui um marinheiro, que converso com saint exupery. imprimo o livro de são joão da cruz, porque seu nome tem um lugar sagrado na escrita da simone weil e na de maria gabriela llansol. acho que irei morrer aos 88 anos como o poeta português antónio ramos rosa. se na minha vila houvesse um padre poeta como josé tolentino mendonça, ia assistir à tudo que ele fala. um padre, poeta, leitor das grandes obras literárias.

minha glandula pineal fabrica dmt quando sonho que voo? ou quando vejo aquelas paisagens num verde indescritível? quem vai me responder esta pergunta? à quem pergunto? à psilocibina? ao terence mckenna, que morreu?
perguntarei à inteligencia alienígena quando estiver pronta.

tenho fumado muito. o tabaco e a ganja me suspendem deste mundo. da forma como ficava suspensa jovem pisando sementes. converso sobre mushroom com o filho iaman. ele chora porque teme que eles queiram ficar comigo assim que descobrirem que gosto de estudar. só agora o entendo melhor. eu vou voltar, filho. e só irei com ajuda xamã experiente.

Diga que as provou

A vida vai te quebrar.
Ninguém pode protegê-lo disto, nem tampouco vivendo sozinho, por solitude a vida irá também quebrá-lo junto com seu anseio. Você tem que amar. Você tem que sentir. Esta é a razão para você estar aqui na terra. Está aqui para arriscar seu coração. Você está aqui para ser engolido. E quando acontece de você estar quebrado ou traído, ou para a esquerda ou ferido, ou a morte chega perto, deixe-se sentar sob uma macieira e ouvir as maçãs caindo ao seu redor, em montes, desperdiçando sua doçura. Diga que as provou como muitos, quantas pode.

Martim
https://soundcloud.com/m-ms

segunda-feira, 20 de junho de 2016

glossolalia da psilocibina

alguns minutos pra escrever
rápido o que houve:
afundei num livro em edição portuguesa
lá flui e aflui e fui
à tona de novo
me trouxe por gritos
e pelo olhar harpio ....... a buscar os pastos
sobre cogumelos
sonho com cogumelos
que a textura é boa, sabor bom
o que me fez lembrar de blake e rilke
e adous huxley e no terence mckenna
outro ahaaaraah. lamento não ali estar o
giordano bruno ou até mesmo o dr. mesmer
cheguei. agora são 4:20
hora de thc e de me incomodar com o pagode à fora
(não pode ser minha esta canção entoada à toa, entornada)
anseio melhor
corro ponho allen ginsberg pra dar seu uivo
lembro de onde vim
tudo bem.

sem tintas não pinto o quadro.
com palavras escrevo um e trago.
ah deus quem dera a glossolalia da psilocibina!
amém. oxalá. virá.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

os giros

giros! os giros! velha face rochosa, olha à frente! 
podem deixar-se de pensar coisas pensadas longamente 
pois a beleza nasce da beleza e o valor nasce do valor 
e esvai-se todo antigo lineamento 
a terra, está manchando-a irracional rio sangrento 
... 
que importa se na crista um mudo pesadelo se segura 
e o corpo sensitivo o manchem sangue e lodo? 
que importa? não suspires, e não caia nenhum pranto 
foi-se um tempo maior e de maior encanto 
e por formas pintadas e por caixas de pintura 
em velhas tumbas eu chorei, não vou chorar após 
que importa? da caverna ergue-se uma voz 
e tudo o que ela sabe é isto: regozija-te de todo! 

fazem-se rudes a conduta e a obra, e rude a alma faz-se 
que importa? aqueles que preza a rochosa face 
os amadores de cavalos e mulheres, tais irão 
desenterrar do mármore ou da sepultura espedaçada 
ou do escuro entre a doninha fétida e a coruja, desse lado 
ou de qualquer negro e opulento nada 
o obreiro, o nobre e o santo, e as coisas todas correrão 
outra vez neste giro já antiquado.

w. b. yeats

segunda-feira, 6 de junho de 2016

amor por antônio

poema para antônio ramos rosa,
o homem que escreveu  a frase
estou vivo e escrevo sol
e que morreu aos 88 anos


não adiemos a poesia 
que vem do amor 
da natureza
por nossos olhos
pele e coração

não deixemos a palavra perfeita que vem do cimo cume

alto indo desvairar ou cair largada, não
num salto colhemo-na de mãos abertas não prostradas
ousaremos-a no ouro 
que não ostenta o lar divino onde está antônio em seu caminho de onde nos olha e nos canta em livros-matéria palavras claras do ar estou vivo e escrevo antônio ser de bege areia e das palavras a ouro
alumia teus poetas desgraçados mas com olhos ainda brilhantes de restarem vivos segurando o mastro ou arado do que deve ser falado ousado dizer quem vai crer? poetas, ovnis, vos sou sol vinde à nós criancinhas numa viagem através duma nebulosa estamos vivos e escrevemos sol leva de nós grande abraço para antônio em agradecimentos

domingo, 5 de junho de 2016

sobre o poema

Num poema, se nos perguntamos porque é que tal palavra está em tal sítio, e se há uma resposta, ou o poema não é de primeira ordem, ou o leitor nada compreendeu. Se podemos legitimamente dizer que a palavra está ali para exprimir tal ideia, ou para a ligação gramatical, ou para a rima, ou para uma aliteração, ou para preencher o verso, ou para uma certa coloração, ou mesmo por vários motivos desse género ao mesmo tempo, houve busca de efeito na composição do poema, não houve verdadeira inspiração. Para um poema verdadeiramente belo, a única resposta é que a palavra está ali porque convinha que estivesse. A prova dessa conveniência é que ela está ali e o poema é belo. O poema é belo, quer dizer que o leitor não deseja que seja outro. 

Simone Weil