Carta aberta ao Rvmo. Padre Casimiro, zelador da Paróquia de São Sebastião de Itaipu.
15 de Julho de 2013
Padre Casimiro,
Soube pelo jornal O Globo, em matéria publicada no dia 13/07/13, que 334 árvores foram mortas para que vagassem espaço a uma missa campal oferecida por ocasião da Jornada Mundial da Juventude à cerda de 800 pessoas. Gostaria de perguntar se o Reverendo consultou seu chefe superior - Deus - antes de aceitar o assassínio da parte material desses excelsos seres vegetais, nossos maiores ancestrais, que nos fornecem ar, sombra e fruto? Já sei que a resposta é NÂO, pois Deus nunca autoriza às mãos o extermínio proposital de suas criações, seja estas de origem mineral, animal, vegetal ou humana. Mesmo assim ainda o fazemos, dado o arbítrio livre, mas não estamos isentos de uma consciência registradora. Convenhamos que evoluímos um bocado neste sentido, o que não justifica mais tais atitudes, não é mesmo? Mesmo assim os executores foram autorizados a fazê-lo no terreno da igreja que lhe cabe. Então faço outra pergunta: com que direito, já que não obteve determinação divina, julgaram que 334 árvores e toda a fauna/flora que vive destas – dos passarinhos aos pequeninos insetos – valessem significativamente menos que algumas horas de 1 missa campal oferecida ao momentâneo júbilo de 800 pessoas? E essas 800 pessoas, sabem disto? Concordariam com isto? O senhor não teme que esses espíritos sobreviventes ao seu extermínio material venham como vento lhe sacudir batina e lhe soprar verdades eternas aos ouvidos? Ou que, após a própria morte física do senhor, em sua viagem por dentro da consciência esta viesse lhe apresentar contas? Não conheço o senhor, perdoe-me o abuso, nunca assisti a missa que palestra nem sentei contigo a mesa para um café à tarde, mas prefiro acreditar que uma luz interior o levou a escolher ser padre, certo? Em nome desta luz que há em todos, inclusive naquelas árvores, não teme o senhor que esta se turve um pouco depois de tudo isto? Redima-se Padre, é o que lhe peço. Replante enquanto há tempo. E siga em frente o teu caminho de evolução. Nos dias de hoje árvores são muito mais importantes ao planeta que o evento-motivo que as destruiu. Pense nisto. Reflita. Que o ocorrido ajude tua alma e a de teus ajudantes a terem mais sensibilidade à vida – nossa preciosidade, dada por amor celeste. Pelo amor que o senhor tem ao Deus que é de todos, tenha a humildade de pedir desculpas à natureza, assim:
Agache ao solo e com ajudantes cave 334 buracos de 5 cm de profundidade cada.
Deposite carinhosamente ao fundo de cada um deles as sementes filhas das árvores falecidas
(é só procurar no solo castigado que as encontrará).
Esfregue entre as palmas das mãos a terra para que esta caia aerada até que preencha por completo a cavidade.
Molhe a cada fim de tarde e acompanhe a germinação. Cuide desses brotos como aos teus fiéis. Insira os novos cuidados à tua rotina. Ore a esses brotos com vigor e alegria. Peça que os espíritos arbóreos finados emprestem vida nova e forte aos filhos recém chegados.
Deposite carinhosamente ao fundo de cada um deles as sementes filhas das árvores falecidas
(é só procurar no solo castigado que as encontrará).
Esfregue entre as palmas das mãos a terra para que esta caia aerada até que preencha por completo a cavidade.
Molhe a cada fim de tarde e acompanhe a germinação. Cuide desses brotos como aos teus fiéis. Insira os novos cuidados à tua rotina. Ore a esses brotos com vigor e alegria. Peça que os espíritos arbóreos finados emprestem vida nova e forte aos filhos recém chegados.
E se o destino (mão de Deus) não lhe der tempo de vê-las grandes como foram suas mães, fique seguro de que se chegarem às mesmas alturas que antes galgaram os troncos paternos, estarás perdoado e mais: terás a alma abraçada por cada folha germinada, a cada ramagem despontada, por cada fruto maduro apresentado.
Não sou católica nem mesmo possuo outra religião que não a do meu coração. É nele que ouço Deus pedir que assim lhe fale. Porque Deus não mora só no templo ou em eventos, o Sr. sabe. É parte integrante do espírito que habita e anima cada um de nós, a todos nós homens e aos demais reinos na natureza. Acredito que Deus é a própria natureza, mas não escrevi esta no intuito de debater religiosidades. Falo pelo todo e não por brechas ou por partes. Meu grande intento com este é que este desastre recém denunciado seja revisto e reabilitado. Porque se o Sr. ou os executores dos cortes não se redimirem e estiverem bem, é difícil que eu também esteja. Um corpo nunca é todo são se uma parte lhe adoece. Somos juntos um só corpo – o corpo do Deus universal. Nisso acredito. Nisso e na seiva que ascende e na força que brota e na sombra que ameniza e no fruto que alimenta e nos troncos que bifurcam e nas folhas que dão ar e no verbo amar e no amor que em todos há e que havia nas 334 árvores e que haverá nas futuras que dependem de uma escolha do seu coração e da obra por vir de tuas duas mãos que feitas foram para semear a flor e nunca para arrancar a flor. A flor que a árvore dá é milagre: elo da terra com o céu. O Sr.sabe. Pode ter se esquecido momentaneamente, num lapso, mas o Sr. sabe.
Meu abraço fraterno, meu sorriso sincero e votos de recuperação à área degradada.
Que a Igreja de nossa querida Itaipu seja sempre um ponto de luz reluzente na imensidão verde.
Que a Igreja de nossa querida Itaipu seja sempre um ponto de luz reluzente na imensidão verde.
Carla Porto
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