Num quarto de ideias de teto alto
Tem-se ao centro deste uma luminária
Cujo amarelo da lâmpada faz parecer
Um sol pleno à meia noite
Em seu ar, éter
e sabe-se mais o quê
Um relógio batendo tempo igual
ao meu coração batendo dentro
do mundo o eterno momento
Nesta fusão de agora
nesse quarto em questão
que na noite que sinto
guardei o sono.
O sonho extrapola lá fora. Por hora a vigília me tem atenta
ao topo das ideias que permeiam este recinto
até ao alto teto e deste afora
céu miríade de estrelas sobre a lâmpada - um teorema.
Por ela tentei o poema.
De seus raios partiram toda a senda de uma ideia tosca toda amarela.
De unhas vermelhas escrevo porque quis que o belo tivesse vez.
Quis que o verso fizesse sentido. Quero ter este quarto como a um vestido.
Cheiro a colcha, é quase jasmim. Que concha parece o ouvido! À ti deito-me.
Sim.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Safira
![]() |
PICASSO |
dar a volta e volver fora de mim.
E então vais voejar os séculos
estudar os mistérios nas criptas cardio
e demais não nos podem contar
Devolver-se-há à mim revolto
parado erguido de pé ante a vida
revolvido, resolvido
pé diante e a trilha
a destecer o tédio em deslumbre
a relaxar os músculos todos
descansar as fibras
de face nova serei devolvida
resolvida, dissolvida
farei honras à viagem
que fiz sem arrancar nem uma única flor
digo que plantei uma árvore e não foi pouco
que dei de ir volátil e voltei
safira
Reflexão sobre o reflexo na poça
o céu nunca é o mesmo
nem nós haveríamos de sê-lo
acordei perdido de quem ontem fui
caminho por pés e pernas
bambas, firmes, distraídas
desviadas dos jardins espontâneos
que surgem não aleatórios, por aí
essas coisinhas pequeninas de esperança
focalizam minha visão, pura e criança
na luz majestosa que se dá na vala negra
aí perdi o poema que tecia
ali no brilho do sol na vala negra
que disse muito mais que o que tento
eu antena espectadora do movimento
de um ser muito maior que eu, por onde venho
aonde hei de volver e que insiste em mostrar sinais de onde sou
eu, terra visor de paisagens eternas que se mudam e a mim
eu, terra, pouso de sonhos esmaecidos e vivos ainda assim
nem nós haveríamos de sê-lo
acordei perdido de quem ontem fui
caminho por pés e pernas
bambas, firmes, distraídas
desviadas dos jardins espontâneos
que surgem não aleatórios, por aí
essas coisinhas pequeninas de esperança
focalizam minha visão, pura e criança
na luz majestosa que se dá na vala negra
aí perdi o poema que tecia
ali no brilho do sol na vala negra
que disse muito mais que o que tento
eu antena espectadora do movimento
de um ser muito maior que eu, por onde venho
aonde hei de volver e que insiste em mostrar sinais de onde sou
eu, terra visor de paisagens eternas que se mudam e a mim
eu, terra, pouso de sonhos esmaecidos e vivos ainda assim
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Cartaz na beira da estrada
Deixe aqui pastar o teu cavalo.
Deixe-o aqui a desenhar um passeio.
Empresta-nos teu fiel jardineiro que nada lhe cobramos em torno e a água é por nossa conta e do céu.
Deixe que a terra do nosso quintal sinta a força das passadas do teu grande animal. As árvores frutificam mais se há mais a quem deva servir frutos. Deixe, que aqui comerá goiabas, mangas, folhas de aipim, cheirará o solo a cata de amêndoas e num momento parará à sombra para repousar.
Logo se movimentará, aguarde que verá. Voltará a sua função de dar à terra uma roupa verde orvalhada, mastigando os excessos das pontas do capim. Quanto à nós teremos a penugem dos gramados, recortados os arbustos, construídos os caminhos eis o chão que nos limpa os sapatos e nos desfila variados insetos. Miríades borboletas.
Deixe aqui seu cavalo e receba nossa gratidão.
Deixe-o aqui a desenhar um passeio.
Empresta-nos teu fiel jardineiro que nada lhe cobramos em torno e a água é por nossa conta e do céu.
Deixe que a terra do nosso quintal sinta a força das passadas do teu grande animal. As árvores frutificam mais se há mais a quem deva servir frutos. Deixe, que aqui comerá goiabas, mangas, folhas de aipim, cheirará o solo a cata de amêndoas e num momento parará à sombra para repousar.
Logo se movimentará, aguarde que verá. Voltará a sua função de dar à terra uma roupa verde orvalhada, mastigando os excessos das pontas do capim. Quanto à nós teremos a penugem dos gramados, recortados os arbustos, construídos os caminhos eis o chão que nos limpa os sapatos e nos desfila variados insetos. Miríades borboletas.
Deixe aqui seu cavalo e receba nossa gratidão.
domingo, 10 de agosto de 2014
Fábula
esse passo que damos e o horizonte
esse pouco que somos e tudo que buscamos conhecer
esse pasmo em tudo que ousamos ainda tem
esse lodo que temos colados aos pés por cima tudo aquilo que não está ao alcance da mão
tudo o que em nós é pouco nos quer mais
tudo o que em nós é homem quer ter deus
tudo que em nós teme quer coragem
esse pouco, naufragar, desabar e pó
tudo isso que nos contam de nós e que nos quer fabulosos
essa guerra, o tamanho da ira, querendo-nos como?
tudo que não está ao alcance das mãos pode vir a ter-nos de mãos postas
não sobrepostas, postas
postas, não prostradas
se os pés descalços levitarem ao lodo do qual crescemos
do barro aprendemos
e no impulso de um vôo
pés alados - mãos extensas
eis
quase morro
pés alados, mãos extensas a
pegar o sonho e moldar em matéria divina condensada
a única disponível, estelar
essa que temos por densa, por nós que somos homem
constituídos por átomos, mônada, moléculas
construídos por quem? por onde?
pegar as mãos extremas aos braços e costurar na matéria as linhas sutis da
fina seda retirada de metais incandescentes, cristais, cintilas, miríades
mãos potentes
levantar os pés
é outra dimensão - que susto
esse pouco que somos será tudo que há
e o que formos será
em alguns tomos será
mais alguns tombos será
ajuste no foco e terá
quem ajusta é o coração
os olhos só veem fora
hora de alar os olhos
torná-los clarividentes a visão desse deus além
que nos quer bem, esse pai
se queremos além alçar-nos
nós, os homens de hermes
que lembramos de deus só por ver a lua
só por vermos sol
sós, imensos e ínfimos
nós viventes do corpo denso terra
planeta raio azul
esse pouco que somos e tudo que buscamos conhecer
esse pasmo em tudo que ousamos ainda tem
esse lodo que temos colados aos pés por cima tudo aquilo que não está ao alcance da mão
tudo o que em nós é pouco nos quer mais
tudo o que em nós é homem quer ter deus
tudo que em nós teme quer coragem
esse pouco, naufragar, desabar e pó
tudo isso que nos contam de nós e que nos quer fabulosos
essa guerra, o tamanho da ira, querendo-nos como?
tudo que não está ao alcance das mãos pode vir a ter-nos de mãos postas
não sobrepostas, postas
postas, não prostradas
se os pés descalços levitarem ao lodo do qual crescemos
do barro aprendemos
e no impulso de um vôo
pés alados - mãos extensas
eis
quase morro
pés alados, mãos extensas a
pegar o sonho e moldar em matéria divina condensada
a única disponível, estelar
essa que temos por densa, por nós que somos homem
constituídos por átomos, mônada, moléculas
construídos por quem? por onde?
pegar as mãos extremas aos braços e costurar na matéria as linhas sutis da
fina seda retirada de metais incandescentes, cristais, cintilas, miríades
mãos potentes
levantar os pés
é outra dimensão - que susto
esse pouco que somos será tudo que há
e o que formos será
em alguns tomos será
mais alguns tombos será
ajuste no foco e terá
quem ajusta é o coração
os olhos só veem fora
hora de alar os olhos
torná-los clarividentes a visão desse deus além
que nos quer bem, esse pai
se queremos além alçar-nos
nós, os homens de hermes
que lembramos de deus só por ver a lua
só por vermos sol
sós, imensos e ínfimos
nós viventes do corpo denso terra
planeta raio azul
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
os cimos emergem
sentidos radiantes
profundo despertar em calma liquidez
abertura tão longa e verde
as palavras dizem finalmente as legendas do longínquo
por toda a parte frémitos florescências
as superfícies serenas respondem
uma outra orientação mais ligeira mais livre
libertou-me da névoa habitual
os cimos emergem
Antonio Ramos Rosa
profundo despertar em calma liquidez
abertura tão longa e verde
as palavras dizem finalmente as legendas do longínquo
por toda a parte frémitos florescências
as superfícies serenas respondem
uma outra orientação mais ligeira mais livre
libertou-me da névoa habitual
os cimos emergem
Antonio Ramos Rosa
sábado, 2 de agosto de 2014
Jóquei
Matilde Campilho
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