domingo, 10 de agosto de 2014

Fábula

esse passo que damos e o horizonte
esse pouco que somos e tudo que buscamos conhecer
esse pasmo em tudo que ousamos ainda tem
esse lodo que temos colados aos pés por cima tudo aquilo que não está ao alcance da mão
tudo o que em nós é pouco nos quer mais
tudo o que em nós é homem quer ter deus
tudo que em nós teme quer coragem
esse pouco, naufragar, desabar e pó
tudo isso que nos contam de nós e que nos quer fabulosos
essa guerra, o tamanho da ira, querendo-nos como?
tudo que não está ao alcance das mãos pode vir a ter-nos de mãos postas
não sobrepostas, postas
postas, não prostradas

se os pés descalços levitarem ao lodo do qual crescemos
do barro aprendemos
e no impulso de um vôo
pés alados - mãos extensas
eis
quase morro
pés alados, mãos extensas a
pegar o sonho e moldar em matéria divina condensada
a única disponível, estelar
essa que temos por densa, por nós que somos homem
constituídos por átomos, mônada, moléculas
construídos por quem? por onde?
pegar as mãos extremas aos braços e costurar na matéria as linhas sutis da
fina seda retirada de metais incandescentes, cristais, cintilas, miríades
mãos potentes
levantar os pés

é outra dimensão - que susto

esse pouco que somos será tudo que há
e o que formos será
em alguns tomos será
mais alguns tombos será

ajuste no foco e terá
quem ajusta é o coração
os olhos só veem fora

hora de alar os olhos
torná-los clarividentes a visão desse deus além 
que nos quer bem, esse pai
se queremos além alçar-nos
nós, os homens de hermes
que lembramos de deus só por ver a lua
só por vermos sol 
sós, imensos e ínfimos
nós viventes do corpo denso terra
planeta raio azul

Nenhum comentário:

Postar um comentário