quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Ah mar

em respeito ao universo 
por palavras peço
à terra onde respiro
perdão

por sonhar de corpo astral 
que colhia brutas pedras
brilhantes 
cor de

rosas transparentes
do seio mãe
das areias
da praia da terra
as guardei em sacolas
carreguei seus pesos
para o eu para os meus

as 
tirei de seu 
habitat 
de brilhar ao sol
para as assombrar 
fundo em bolsas

rogo
rezo
rodo

volver ao sonho
ir 
devolvê-las
uma a uma à urna livre
às suas reverberâncias
às suas casas de areias
deitá-las
deixá-las

assim tornam-se-ão mulheres melhores

sábado, 14 de novembro de 2015

Ciranda para o limiar

flui ao vértice da terceira dimensão ver se
dali
 dava pra ver o tesserato não vi devo ter flanado errado pela aresta equívoca volvi ao estudos aspirei profundo respirei altíssima esperança flui lá ao vértice da terceira mas não vi a quarta mas sei que tem sei que existe há devo ter entrado pelo fundo errado volvi ao livro sentei entrei respirei fundo o erro profundo encheu me da esperança volvi e flui por cimo da terceira mas não vi flanei de volta pelo fio certo volvi respirei errei te disse não vi mas há não dá pra desenhar mas tem a quarta acreditar acreditar há flui ao cume do terceiro e do cimo de lá olhei pr´onde não é cima ou baixo ou pr´este ou pra quele lado e tinha mesmo um tesserato mas isto não quer dizer nada aqui

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Nascimentos

Conclusões

o princípio é incessante
não há como findar

poalhas que adejam

cápsulas de sementes
futuras infrutescências


mil plantas cistáceas

miríades coisas
todos os instantes
anjos terríveis

domingo, 8 de novembro de 2015

Exortação maviosa

es ta mos tão
acostumados a estar mos
vi vo s
que esquecemos que
(morremos
de
corpos)
qual quer dia
seremos poalhas a adejar
(
impalpáveis)

outros se servirão de nós para respiro
eu digo

que sou motivo
do que vai
...
adiante

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Alta lembrança alada

Tive
Memória extinta de volver à deus

Não sei mais como vim ter aqui
- mistério profundo isso
Sei por ciência que colhi material de semente dúctil
Cresci e num dia nasci
(Morrer e nascer
- o que mais há nesse mundo)

Antes, entre e depois
- o mistério profundo
queira ou não queira
ninguém sabe por quê
O moço contou-me
já não posso explicar-te e
se pudesse dizer não dizia
- o mundo anda imbecil
Melhor morrer tudo junto primeiro
Nascer tudo junto, outro, depois


recém nasci e não havia mais nenhum velho

pra contar a história toda
todo livro era novo campo branco de ideias vasto
- tinha vezes verde de tantas plantas
possibilidades visivelmente reais ideais os materiais

sem ais
sem mais
vou volver-me
adeus
vou-me eu alto ao Poeta,
devolvido

(Posfácio por Sophia de Mello Breyner Andresen, postado por Arsênio Meira Júnior)

"Aqui nesta praia onde não há nenhum vestígio de impureza, aqui onde há somente ondas tombando ininterruptamente, puro espaço e lúcida unidade, aqui o tempo apaixonadamente encontra a própria liberdade."
imgs.: Alberto Casiraghy 

Alba cheia com verbetes florais

Lá além, ali, aqui, aquém, algures, 
alguém
afundado na fundação do ego pleno de problemas e outros medos
passava sem ser
ver vastas e várias
arestas
e mais
algumas

pétalas,
rosáceas, filetes,

anteras, corolas, cálices,
invólucros, folíolos, prúmulas e primeiras flores 
ainda dobradas in semente antes da próxima primavera.
Hasteava problemas alheio às
nervuras centrais, laterais, ramos,
limbos, pecíolos.
Volvido em fadas, se ver

caules, cotiledônios, prevides aos frutos, heliantos,
filiformes, anastomoses, ranúnculos,
cornaduras, trevos.
Emaranhou-se revolvo em teias,

pisou vasos tubulares vegetais
nem viu aranhas
ninguém nenhures nem um plátano.

No bolso pílulas para complicações neurais.
Sabia íntimo ser viajor mas seria em próxima vida sem dúvida
- era seu desiderato profundo.

Escrevi assim para você que queria ser
andarilho
não entender nada e
sobretudo amar.

(ainda estou escrevendo. este é um poema difícil, precisa ser estudado e está incompleto)
"Não querendo mais uma obra para trabalhar, precisava de uma para me divertir. Decidi fazer a Flora petrinsularis e descrever todas as plantas da ilha sem omitir uma só, com detalhes suficientes para me ocupar pelo resto de meus dias. Dizem que um alemão escreveu um livro sobre a casca de um limão; eu teria escrito um sobre cada gramínea dos campos, sobre as pedras; enfim, não queria deixar um fio de grama, um átomo vegetal sem descrição." Jean-Jacques Rousseau

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Para você incompreender

Vênia! Venho falar:

Mesmo que finde a estrada não acaba
Mesmo que aos pés não aja chão - anda
Solte a flanar teu corpo sútil de matéria estúpida


Ouve:
- um caracol - material de poema - sonha ter medula e
acorda molusco
- outra medusa nasceu de uma ideia acesa e ergueu-se em osso
e coluna feita de algumas vértebras
(achei um osso de sobra em mim)

Tinha a alma dada à tua e podia desabar deste sustentáculo, sem dó.
Este nó, quem nos deu?
Isto você não sabe - rá!
Nem eu.