sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Alta lembrança alada

Tive
Memória extinta de volver à deus

Não sei mais como vim ter aqui
- mistério profundo isso
Sei por ciência que colhi material de semente dúctil
Cresci e num dia nasci
(Morrer e nascer
- o que mais há nesse mundo)

Antes, entre e depois
- o mistério profundo
queira ou não queira
ninguém sabe por quê
O moço contou-me
já não posso explicar-te e
se pudesse dizer não dizia
- o mundo anda imbecil
Melhor morrer tudo junto primeiro
Nascer tudo junto, outro, depois


recém nasci e não havia mais nenhum velho

pra contar a história toda
todo livro era novo campo branco de ideias vasto
- tinha vezes verde de tantas plantas
possibilidades visivelmente reais ideais os materiais

sem ais
sem mais
vou volver-me
adeus
vou-me eu alto ao Poeta,
devolvido

(Posfácio por Sophia de Mello Breyner Andresen, postado por Arsênio Meira Júnior)

"Aqui nesta praia onde não há nenhum vestígio de impureza, aqui onde há somente ondas tombando ininterruptamente, puro espaço e lúcida unidade, aqui o tempo apaixonadamente encontra a própria liberdade."
imgs.: Alberto Casiraghy 

Nenhum comentário:

Postar um comentário