terça-feira, 25 de setembro de 2012

Aura terrestre


Melancholy of a Japanese Girl, por Yoko Furusho
No exercício de colher sentido, andei.
Filhos me atam e me livram de mim.
Pernambuquei avoada e liberta e vi homens em amarras.
Incapaz de livrá-los, acho mais fácil lavrar a terra.
Me desculpe por isto.
É que a cada qual cabe parcela de ação. Atitude que tenho é escrita. Nela e na árvore que cresce no centro do terreno finco e fundo estrutura que eleva um elo eloquente e ressonante. Assim proclamo revoluções às distâncias pois sei do ideal.
Este algo pai e pacífico que foi acordado até bem antes do nosso nascimento.
(Algo que é mais ou menos assim)
Não há muros. Vista o que quiser e se não quiser não vista. Não há justificativa pro grito. Holofote é eletricidade aprisionada. Nada novo a fabricar. O que te carece comprar? Manutenção do que existe, já. Com carinho, sem desperdício - vide a inteligência da distribuição. Nenhum brilho de pedra rara deverá ornamentar dedos. À terra o que é dela. Evite seu escavar. Saiba da preciosidade do ar. E do corpo que habita inter solo. Teu corpo e teu lugar emprestados vão passar. Sabes. Tua morada já foi mar. Tá, trazes olhos cansados em espírito velho. Mas não olhe de soslaio. Goste do gosto do dentro. Sonhe um amor gostoso e imenso que nada tenha de concreto. Fume as horas e imagine a memória a te somar. Político algum pode te representar ou te proteger do que não há pra temer. Confie e perceba como algumas artes são inúteis em sua pequena utilidade. Querem te culpar por não agir? Não queira destruir, queira aproveitar! Ou cessar. Suspender construção. Permitir ocupação. Abrace uma casa abandonada. Adentre-a com seus ares e novidades, enfeite com colares e fique a vontade, por favor. Se carecer, pinte as paredes mas preserve seus descascados. É pertencer das coisas o tempo e a cor. É sua maior necessidade a utilização. E se o uso cansar, concerte.
Entoe saudades do Gandhi, do Lennon, do Tom. Lembre-os à ti...
sempre...
sobre palanques retóricas dão voltas em si. Ouvi, ao longe, fugi. Palavras voavam soltas, tontas, sem função ou lugar no real. Quiseram me agarrar e me embaralhar num estardalhaço! Artifícios artificiais. Fiquei surda só de ouvir. Sou boba não, toquei na beleza e dancei. Foi bom. Fácil. Dou graça só pelo alimento, abrigo e calor do agasalho. Não te pedi nada. Nem perdi nada que você tenha achado. Se a necessidade me traz nova função, deixa que eu faço. Ou quer que lhe pague um imposto e lhe cobre por atitudes que me são de dever via a lei das eras? Dou utilidade às minhas sobras, não lhe peço que as recolha. Agradeço a intenção, se esta for boa...
Toda vez que atravesso um bosque acho tão secreto que me vem um desejo folha.
Cada vez que me sobrevoa a passarada me sinto leve e quero junto.
Filhos me atam e me livram de mim. Só descubro sentido inteiro se for até o final corporal. Aí sim. No entanto e por enquanto recolho as peças-acontecimentos e as acrescento ao firmamento. Coloco os acentos, repouso e intento integrar. Acordo inteira mas eis que perco parte da metade ao dragar o quente negro café. A rotina me cobre da personalidade que dispo porque quero o ideal e o mais. 

Dispenso ajuda camuflada de lucro: ar é de graça e há tempos sintonizo acalantos. Veja: ar é graça acalantada ausente sob mar. Por isto acalente, atente e respire. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Diário terreno

Tire o microfone deste homem que berra. 
Um grito não precisa expansão.

Tire das mãos daqueles senhores este motor que irrita, inibe e enreda.


Beleza, se encontra terreno, expande e expandia. Expansiva abrangência numa distância imensurável.


Se quiser, sustente o sorriso de um humano qualquer. Coisa fácil, nosso natural.


Difícil é ver óbvio. Ouvir límpido. Ativar rítmos. Drenar líquido. Solucionar.


O resto é fácil. Harmonia transitante, pairante, presente e passante como pássaros de carona nas correntes de vento. Um bando deles é o que merece o céu e o que cabe às copas, nas árvores.


Continuo aqui pisando daninhas. Rabiscando trilhas. Comendo capim. 

Quarando as roupas no varal. Enfeitando. 

Suando. Parando prum trago. Continuando.


Cirando elíptica. Eternamente. Solta infinitamente. Infindável a existir.


Exercício de persistir no novo. Tudo que guarda um ovo solicita cuidados amenos.


Coleciono na íris olhares e crianças. Por isso algumas que vêem dentro e mais gostam demais de tocar minhas saias, de se achegarem aqui.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Mudança de estação tomba morte à gravidade, rebenta a vida voadora

Equinócio - meio a meio - tarde do dia que é já quase noite. Entre. Tanto... Tabuleiro de xadrex. Meia luz quase inteira - breu. Meia lua oculta. Lusco fusco e a dia vira a curva do horizonte. Vai acender acolá. Foi? Achei! Uma lanterna na noite depois de ver de dia. Tateio e rastejo. Achei! Aqui ela bela. Ela alegre. Ela concreta. Matéria divina. Elétrica. Brilhante. Na hora marcada chuva choveu e nasceu forte. Caiu ventando, lavando, regando, enxarcando. Caminho virou rio de lama e nutriente. Sementes viajaram nele. Água entrou aqui pelas janelas, poros, sendas e vãos. Sem pedir licença. Deixei. Óbvio. Enxuguei. Entoei gargalhadas de crianças entornadas nas poças marrons. Festa de sapo. Na luz da hora 6 - Ave Maria. Salve salve. Milagrosa, apaziguadora, cronometrada e pontual. Tava só na espreita, espectadora, esperança, torcida. Ê, desaguou céu na terra. Folhas vieram tontas e me acertaram a cara, colaram figuras nos meus braços, feito cola a roupa grudou na pele. Muita coisa seca, morta e marrom veio deitar no chão. Tudo cheiro bom. Tudo úmido. Meio sim, meio não. O sol, quando tirar as nuvens dos olhos vai ter função. Secar molhado e alternar-se, sagrado. 

Coisa boba, à toa e boa é varrer folhas do piso prá terra. Coisa alegre, fresca e séria é secar a chuva com o sopro do suspiro deste cheiro molhado.

Vixe Maria, que tristeza breve! Chora daí que rio aqui engorda e entorna felicidade na cachoeira que queda. Primavera, é teu meu coração. Faça dele o que bem quer.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Lá fundo onde sou sol soul suor

lá fundo onde sou sol soul suor
fui. voltei. entendi. algo tá morrendo. uma libélula escolheu esta casa pra morrer. o vento encarregado do tempo e auxiliado pela vontade gravitacional entornou o velho caule de árvore - ao chão. oco, caminho de insetos pretos, fibras retorcidas. não ouvi o som, estava longe, no futuro. só presumi. e conferi: alguma confusão arrumada, cheiro verde, casulos, favos - todos - ao chão. um ninho talvez. uma telha quebrada. abelhas residentes e resistêntes. uma delas foi aos correios comigo enroscada num chumaço dos cabelos. e mais: cascas tortas, galhos grossos e miúdos e brotos de jamelão todos verdes - grande tombo. ao chão a imensa casa de abelhas irapuãs montada no topo do galho central. ornamenta varanda. essa velha parte árvore que agora foi deixou à vista grande pedaço de céu. mais estrelas. mudei a posição do domir. vejo uma veia pulsar no pulso. acordei hoje - dia de verão intenso no inverno astrológico. ardência vermelho amarelo laranja cor do fogo. 2012. aqui e atrás das nossas janelas. tudo isso se dava quando eu estava parada num olhar tão tão tão... não sei dizer. o vento sopra e sua fala não soa palavra em português. sou sendo só soul sol suor num corpo apartado. apertado.

tudo assim, tão simbólico. só tive pistas. frações de segundo.
milinésimos intensos e prolongados.


me obrigam a navegar por cima do mar da ilusão. 
isso me dá uma tristeza muito lúcida. é que
menino sonha com coisas que depois cresce e...


só teimo frases incompletas. calo e ouço e tentar transcrever é aprisionar. careço melhorar. refazer a dor pra desfazê-la.

boa a noite de lua nova e ausente
só vejo sol surgir se for com ocê
ou vou sonhar a manhã inteira
dando supapos no tempo, brindando beijos com vento
me arvorando em vôos levitosos ou em saltos
em varas de bambu. 

não mais atiço fogo, não mais atiro pedras. 

caminho do karma ao dharma, como dizem aí.
busco olhar passarinho.



agoraamor me acorde
pois quando menina sonhava com coisas e cresci.
guardo cansaço nas horas e mormaço nos braços. 
sol combustível prá respiração. energia há de sobra pro sorriso.
gratidão pelo presente clareira de azul-dia e de estrela-branca noite.
frescor de brisa é beijo. seu. sei.

depois que parti de ti é verdade que parte de mim te retém e me mantém. não sei por quanto tempo. tudo o que era mantido por aquele galho velho veio abaixo e eu acho que isto quer dizer uma coisa enorme. ninho tá intacto e vigoroso. vem um dia e nele sobra tempo pra sorte e seus pacotes voarem janela à dentro e soarem varandas à fora. e dentro. aqui.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Um índio

Quando sinto geralmente na minguante um peso do mundo sobre ombros me lembro nos olhos que sou uma criança entendendo tudo. Assim sacudo ao alto e recebo, à vontade, aquilo que agente não explica. Olhando a noiva apaixonada e o fresco ar do amor que à tudo enfeita e colore. Lembrando à terra sua condição de bailarina entre as estrelas. E no vínculo o coração quente e vermelho fazendo carinho no tempo que percorre o caminho espaço. O princípio do som. Sendo. Sondo frequencia pandeiral. Aspiro ares dos ventos passeantes. de tudo que é quase circular e gira embriagado. Uso linguagem e canção. E não só. Toda conta é canto. Ah o conto humano e seus olhos passarinhos. Já deixaram de ser o que eram antes. Todos estão livres. Tô no centro da semente. Ansiei, guardei projeto e semeei. 

Hoje o samba saiu na voz da Amy Winehouse e nos batuques dos filhos de Gandhi. Foi aí que um índio desceu de uma estrela colorida e brilhante. Adentrou a aura da terra: impávido e infalível!

"E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio"

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

nãosei

ah a vida. quando tá enfeitada. ah o outro ângulo das coisas. ah quando se está alinhada. ah. há! não faço idéia do que tá acontecendo. fiquei ciente do inconsciente. vontade mór expulsou desejo. fiquei maior. peguei carona. sobrevoô e vejo coisas indizíveis. nem posso te contar. nem dá. nem é segredo. tá explícito. toca tambor no peito. acelera flúidos. fluidifiquei-me. pronde fui? cá estou. voltei aqui. carne e sangue. e não só. peguei carona no magnestismo musical e flui. só agora retornei. não tenho nada pra contar. nenhuma novidade. uma energia enorme nas ancas. minhas mãos soltam raios. nem vai chover. os grilos viajaram comigo e isso é só o que posso dizer. fiquei com medo. de esquecer como se diz. de desapreender a andar. as pernas bambas e os ombros quentes. nem tinha ninguém. não é coisa de gente. e agora? alguém vai entender? não acho o tradutor. cabeça teima entender. minha cara tá quente. corpo todo quer explosão. orgasmei as estrelas e toquei em silêncios. ninguém ouviu. alguém viu. sei. só sei e mais nada. nada há além. além de todo o conhecido toquei o imaterial. não colhi amostras. não posso doar. não posso contar o embaralhado. fios dos sinais do espectro. resquícios quentes sobraram aos sentidos. e só. migalhas quase. raios cortantes. multicor pra depois escuro envolto luz, íris e mais. lembro que dancei. fez ciranda a cintura e se soltou. assim perdi o nome. era uma palavra dissolvida na espiral. por hora nada aspiro. ainda respiro. só eu sei como. com que esforço. suspiro e ergo a força. e essa forma mulher. branca. queimando brandamente. lucidez alucinante. voz maior. lingua delirante. indecifrável em sinais. isto é só rabisco. não há tradução. se segurar minha mão vai ver que queimam os resquícios. breves passantes. não sei se voltam. ou pronde foram. não sei escrever. sei não. pernas bambas. preciso deitar. assim se crescem asas. vou pro ninho integrar. amanhã não sei o que será. o que vai ser vai sobrar. não sei somar depois de dividida. ah a vida foi muito maior que eu e eu quase não a pude suportar. se não retornasse pela via poética sei que me desintegraria. só voltei mesmo pra contar que não dá pra dizer. mas que soa como música mística e magnética. tem rítmo que não é o das palavras nem de um instrumento que se aprende, qualquer. não sei. vi, mas não sei contar. não foi com os olhos. escrevo de supetão e é tudo mentira e eu sei da outra face. posso dizer que há nada além. e mais nada ainda. mas é mais e é além e deveras verdadeiro o que ningúem pode contar. viu? agora que escrevi fugiu. esqueci. foi. instante esfriou. fui dar e perdi. que se distribua. logo mais rememoro o dançar vibrativo. sei da possível volta desse capricho - sonoro que voa e me envolta. eletrônica pura. canal de ascendências. via das descendências - vivas. em cadente cadência concluo aqui o que não tem fim nem é começo. no meio dia da vida, com sol a pino e eu no alto do oco de tanto vazar escritas - rabiscos e ariscos pela pele que logo vai se decompor ao primeiro raio matutino. que saltite o bailarino e levante os demais. despertai que hoje em sonho intuo palpite do bom. suponho compor acorde raro feito fios de translúcidas transparências.

tais como as sílabas rá! áh! há!


tipo conjunto dos raios coloridos consequentes da decomposição de uma luz complexa.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Sobre o nada eu tenho profundidades

A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não entender quase tudo.
Prepondero a sandeu.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não cultivo conexões com o real.
Para mim, poderoso não é aquele que descobre ouro,
Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias:
(do mundo e nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei muito emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

Manoel de Barros (In: O Encantador de Palavras)

Frasinhas coladas

vá, filho, pronde tiver de ser
que meu dentro te contém sem  te reter


fica a vontade de dizer mas... ouço tanta coisa à toa
silêncio por favor, vamos respirar!


ah, que bom este lugar. vou morar aqui um pouco...

tempo e passo e a lua clara cresce prá minguante
antes cheia e denovo nova novamente
você onde mora? que não vês minha face.
seja qual for a fase é sua antes que minha.


vá. volte. ninho é mais quente à quem
avooou. vou. vens. saudade é p/ quem tem.