sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Clareira

Cavo uma clareira e nela cresço uma árvore. O fruto que dará é coisa pro final. Esse é só o começo. Cavo sozinha, mas com a energia doada pelos seres que tomam as avenidas, à tardinha, ao crescer. Estes transmutam cada molécula de ódio em esperança. Não sabem o que virá mas cavam, cavam e cavam o chão. Também daqui cavo e após cravar muita terra nas unhas abro considerável diâmetro. Derramo dentro as sílabas que comporão as palavras que unir-se-ão às frases que serão as leis antes impronunciáveis. Palavras-folhas. Frases-troncos. Essa árvore governará o mundo. Tal como nunca se deu. Tal como sempre será. E vale lembrar que sempre não é todo dia. Cavar cansa e não teve início só no ontem: cavo há eras. Mas agora tá pronto. Tomem cuidado antes de aterrar e irrigar: tem que ser terra das melhores e as águas, puríssimas.

Img.: Catrin Welz Stein

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