quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Poema imundo mal lavado nojento irado

Fui à tarde à biblioteca de Araruama e fiz um enorme esforço ao buscar um título nas prateleiras pois um evento surreal dava-se na praça, no lado de fora. Um homem (um babacão mesmo) ao microfone anunciava ações sociais tais quais curso de maquiagem, exames de saúde, venda de manufaturados, cadastro de currículos e ofertas de supermercado. Nos intervalos: música. Música? Bem, era um cara que parecia estar cantando enquanto dizia que estava cheio de tesão e cada vez queria maaais. Ao som desse troço crianças saltitavam pulantes num pula pula gigante enquanto seus amiguinhos esperavam comendo pipocas. Pessoas se acreditavam doentes nas filas dos exames, outras liam alheias encartes promocionais enquanto eu tentava heroicamente me concentrar nas lombadas dos livros duma estante bagunçada e que tenho por gosto arrumar. Mas não deu, o barulho era tanto que os vidros das janelas fazem zum tum zum tum bum bum. E ninguém de lá tá nem aí e aí até que não aquentando mais um desespero me empurrou dali e me fez sair correndo, disto tudo. Enquanto espero a bibliotecária me entregar a bolsa certa (pois tinha me dado a errada) uma outra senhora, bem senhora, toda pompa e portentosa, exigia que um funcionário falasse baixo já que conversava animadamente com um menino (estavam alegres, tratavam de um assunto de bastante interesse a ambos, desses que dá gosto ver). Foi nessa hora que eu não pude mais me conter e berrei:
- Minha senhora, como é que ele pode falar baixo com todo esse barulho aí fora e como é que a senhora consegue se incomodar com ele e não com tudo isso que tá aí? Eu berro também, olha como estou falando alto, a senhora deveria estar berrando, todos vocês, como conseguem consentir isso??????????? AHHHHHHHHHHHHHHH! 
E o cara lá, de longe, concordando com tudo, num É isso aí. Me senti num palanque de um espectador só com o punho levantado emitindo toda a força. Corri dali. Sai puta. PUTA. Puta com tudo. Irritadíssima. Minha cara dava medo. Sem querer vi uma flor. Que raiva daquela flor. Como ela se atreve a ser bonita quando tá tudo tão ergh? Donde tira coragem pra esbanjar beleza assim à toa e tão inútil. Acessível e invisível aos homens em insana ignorância, arrotando arrogância, confortavelmente alienados, comprando plastificados, acatando falácias, armazenando hidrogênios e peidando em via pública. Pro caralho! Minha ira é combustível. Bio-combustível pra ira aos japoneses sanguinários dos golfos, despejadores de toneladas venenosas aos mares. Sujando o verde, manchando o azul. Ira aos sargentos milenares, aos homofóbicos particulares. Sujando os ares e o chão de sangue. IRA! Ide a merda! Idem todos e idem juntos. Poliamor pra vocês. Pólen pra vocês. Que o amor lhes dê tapas na consciência embotada e rasteiras fenomenais. Esfrego a flor na cara carcomida de todos vocês. Planto árvores na cor cinza que tem a roupa de vocês. Inundo de ódio a paz panaca de ocês. Seus babacas! Babacões! Babacudos!

p.s pra finalizar o dia ainda me liga uma querida querendo me vender a OI TV. Pede né?

Oi? Olha aqui. Eu não quero esta porcaria da tua tv nem hoje nem amanhã nem nunca. Nunca mais me liga oferecendo esta droga. Não quero que liguem para minha casa para vender nada! Tenho duas pernas e sei onde fica a loja. Não vou comprar tv por telefone, nem papel higiênico, nem jornal, nem tela plana, nem leite em pó, nem água sanitária, nem conservados, nem desidratados, nem refrigerante aromatizado, nem cigarros, nem porra nenhuma! 

Desliguei. 

Como limpar este poema imundo?

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