sábado, 31 de agosto de 2013

Respiração

Vou me encher de silêncio nos dias úteis
pra, quem sabe
esvaziá-lo em palavras num domingo
de sol, à tarde.

Sustento a esperança.
Sustenido o semitom.

Toco ode ao refletir.
Canto a nota ao meditar.


À noite o sonho traz 
o vôo vai ficar comprido.
Sem o corpo é leve.
Livre vou aí.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Sinto um cheiro estranho no ar embora o ar daqui seja puríssimo

Uma história louca insana se anunciando. Vou escrevê-la aqui para exorcizá-la das minhas suspeitas. Que vão pra puta que pariu, ou melhor, tal qual a teoria do mercúrio de Paracelso* sejam abduzidas e transmutadas pela luz (SOL):

Primeiro o levantamento de um sonho libertário pertencente à grande humanidade eclode na Turquia e, como uma onda, desperta a consciência de pessoas em todos os continentes e traz ao auge os occupys. Extra terrenos aparecem nos sonhos de muitas pessoas. No entanto, quando tem seus sinais captados pelas forças aéreas dizem: Não estamos falando com vocês! 


O que querem nos dizer? O que vieram nos contar?

Não sei. Sei que a Turquia fica perto da Síria que fica perto do Iraque que fica perto do Irã. Não entendo nada de guerra mas parece que Russia e EUA brigam por petróleo e esses países são fontes de petróleo e Obama e Putin me parecem suspeitos, embora simpáticos. E que os EUA se acham no direito de proteger o mundo com seu exército de "salvadores" e alguns estupradores que acham justo matar centenas julgando proteger milhares. E tem um grupo deles no mar agora aguardando sinal para atacar a Síria depois da suspeita morte de mil e poucas pessoas por motivos e causas desconhecidas. E isto enquanto um incêndio surreal dizima uma floresta na Califórnia (EUA) há dias!


E o mais doido disso tudo é que existe uma cidade imensa sob a Capadócia, na Turquia, capaz de proteger centenas de pessoas sob algum tipo de ameaça. 


*leia em: http://www.devirdesign.blogspot.com.br/2013/08/transmutacao.html



domingo, 25 de agosto de 2013

Palavras infantis

Alexi Caroline Anderson
1
Iaman com frio nas pernas e todas as calças secando no varal. Acho uma de cor rosa, da Sofia e lhe ofereço. Ele me solta esta: não, esta não, não sou do tipo feminina. Sou do tipo feminino!

2
Uma discussão infindável.
Iaman: - Não Rima
Sofia: - Rema
Não rima. Rema. Não rima. Rema. Não rima. Rema.

3
Concordância plural 
- Mãe, já procurei todos os cederes e não acho!
tem também os eteres, seres de outros planetas.

4
Esses polícias tinham que ir pra masmorra. Ou pior: pra cadeia alimentar! Inconformado, Iaman amarrou um echarpe preto na cara, fez-se ninja e manufaturou um cartaz mini escrito assim:
- Ei Cabral, vai tomar no cú. Se acalmem um pouco, manifestantes.


5
- Por que eles não sentam numa mesa pra conversar? Simples.
Sofia ao ver tanta imagem truculenta no Facebook.

6
Iaman ao ser perguntado se o mundo ia bem aos seus olhos:
- Pra mim tá, pros adultos é que não.


7 (Iaman)
- Raiva é uma palavra que não presta pra nada.
Um dia acordou e do nada disse:
- Antigamente ninguém nascia. 

8 (Iaman)
- As canções tem cores. Nossos corpos também. Mas agente não vê. 
- Mas então como é que você sabe disto? 
- Dentro da minha imaginação, sei.

9
- Por que será que agente cai e sente dor?
- É né? Por que?
(...)

- Porque o chão é duro e agente, sensível.

10
Sofia terá uma filha que se chamará Sara Sereia Serena.

11
Iaman pergunta se na minha época de criança a tv era em preto e branco.
Digo que na minha não, mas na da minha mãe sim.
Então ele diz: - Mas não existia o rosa? A árvore não era verde?

12
Iaman, em conversa com Sofia, lhe diz que vai fazer um castelo com uma enorme torre Eiffel.

13
Iaman começa a escrever um livro e a primeira frase é:
O pirata acha sua letra de ouro.


14
Iaman, em sua criatividade, resolve adestrar o gato Machalá:
- Vejam pessoas, que coisa expressionante!


15
Sofia ao ver uma freira na rua:
- Olha mãe, é carnaval denovo! Vamos, vamos!


16
Papo com Sofia:
- Choveu, tá cheio de piscina de fada lá no quintal.
- Não, mãe. Fada não gosta de piscina. Porque molha o pó mágico e como ela faz pra voltar pra casa?


17
- Mãe, não esqueça a camisinha. Procure uma revendedora avon. 
Iaman. 

18
Neologismos da Sofia:
- espada de joão jorge
- rock n´show
- cristo arrebentor
- folha-chiclete (hortelã)

- trepa-pé (trepadeira)
- curubu (urubu)
- motocó (mocotó)


19
Ao desembaraçar os cabelos da Sofia ela fica brava:
- Ai, esqueceu que eu sou feita de pele, osso e coração?

20
E essa eu vi no face:
Hoje é penas um dia em que depois de amanhã já poderemos chamar de semana passada. Yan - 8 anos.

21
Depois de ler um poema do Julio Cortazár para Iaman, ele diz:
- Não entendi, mas gostei.


22
Sofia chama você de bocê
(bocê tinha que vê, mamãe).

Iaman chama travesseiro de pabiceiro malelinho.
Computador é poputador.

23
Sofia diz que não consegue parar de pensar, pensa o tempo todo, pensa toda coisa até Jacaré de sainha bailando balé.


24
Iaman não tava curtindo a cenoura. mas come filho, faz muito bem pros olhos. então ele arregala-os e diz: mas eu tô vendo MUITO bem!


25
Iaman deitado no colo da tia Neuza com as mãozinhas pousadas em seus peitões, de olhos arregalados fala:
- Grande, né? É seu?

sábado, 24 de agosto de 2013

Hoje é sábado e não teve manifesto

Ao invés de reclamar do corte das 3 árvores que vi em tocos no caminho
resolvemos subir em uma e celebrar-lhe a vida.
O cajueiro de troncos baixos retorcidos e brotos recentes
cedeu-nos acento dizendo-nos faz tempo que não era visto assim: 
- Tão de perto.

Nos deu um beijo ou uma folha.
Nossa pele ainda é madeira.

Prometemos voltar e chupar seus cajus.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Transmutação

CRESCIMENTO DA RAIZ:
É sabido que a vida e a sensibilidade (magnética) residem no Mercúrio. O mercúrio subterrâneo dos minerais, quase sempre venenoso e carregado de impurezas, encontra-se literalmente no inferno, quer dizer: para a sua própria atividade não encontra outro alimento nem outro objeto além do que a si mesmo.

Por conseguinte, é só uma vibração solar chegar a ele que a torna sua, absorve-a totalmente dentro do seu corpo. 

As plantas mágicas - Botânica oculta
Paracelso

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Poema imundo mal lavado nojento irado

Fui à tarde à biblioteca de Araruama e fiz um enorme esforço ao buscar um título nas prateleiras pois um evento surreal dava-se na praça, no lado de fora. Um homem (um babacão mesmo) ao microfone anunciava ações sociais tais quais curso de maquiagem, exames de saúde, venda de manufaturados, cadastro de currículos e ofertas de supermercado. Nos intervalos: música. Música? Bem, era um cara que parecia estar cantando enquanto dizia que estava cheio de tesão e cada vez queria maaais. Ao som desse troço crianças saltitavam pulantes num pula pula gigante enquanto seus amiguinhos esperavam comendo pipocas. Pessoas se acreditavam doentes nas filas dos exames, outras liam alheias encartes promocionais enquanto eu tentava heroicamente me concentrar nas lombadas dos livros duma estante bagunçada e que tenho por gosto arrumar. Mas não deu, o barulho era tanto que os vidros das janelas fazem zum tum zum tum bum bum. E ninguém de lá tá nem aí e aí até que não aquentando mais um desespero me empurrou dali e me fez sair correndo, disto tudo. Enquanto espero a bibliotecária me entregar a bolsa certa (pois tinha me dado a errada) uma outra senhora, bem senhora, toda pompa e portentosa, exigia que um funcionário falasse baixo já que conversava animadamente com um menino (estavam alegres, tratavam de um assunto de bastante interesse a ambos, desses que dá gosto ver). Foi nessa hora que eu não pude mais me conter e berrei:
- Minha senhora, como é que ele pode falar baixo com todo esse barulho aí fora e como é que a senhora consegue se incomodar com ele e não com tudo isso que tá aí? Eu berro também, olha como estou falando alto, a senhora deveria estar berrando, todos vocês, como conseguem consentir isso??????????? AHHHHHHHHHHHHHHH! 
E o cara lá, de longe, concordando com tudo, num É isso aí. Me senti num palanque de um espectador só com o punho levantado emitindo toda a força. Corri dali. Sai puta. PUTA. Puta com tudo. Irritadíssima. Minha cara dava medo. Sem querer vi uma flor. Que raiva daquela flor. Como ela se atreve a ser bonita quando tá tudo tão ergh? Donde tira coragem pra esbanjar beleza assim à toa e tão inútil. Acessível e invisível aos homens em insana ignorância, arrotando arrogância, confortavelmente alienados, comprando plastificados, acatando falácias, armazenando hidrogênios e peidando em via pública. Pro caralho! Minha ira é combustível. Bio-combustível pra ira aos japoneses sanguinários dos golfos, despejadores de toneladas venenosas aos mares. Sujando o verde, manchando o azul. Ira aos sargentos milenares, aos homofóbicos particulares. Sujando os ares e o chão de sangue. IRA! Ide a merda! Idem todos e idem juntos. Poliamor pra vocês. Pólen pra vocês. Que o amor lhes dê tapas na consciência embotada e rasteiras fenomenais. Esfrego a flor na cara carcomida de todos vocês. Planto árvores na cor cinza que tem a roupa de vocês. Inundo de ódio a paz panaca de ocês. Seus babacas! Babacões! Babacudos!

p.s pra finalizar o dia ainda me liga uma querida querendo me vender a OI TV. Pede né?

Oi? Olha aqui. Eu não quero esta porcaria da tua tv nem hoje nem amanhã nem nunca. Nunca mais me liga oferecendo esta droga. Não quero que liguem para minha casa para vender nada! Tenho duas pernas e sei onde fica a loja. Não vou comprar tv por telefone, nem papel higiênico, nem jornal, nem tela plana, nem leite em pó, nem água sanitária, nem conservados, nem desidratados, nem refrigerante aromatizado, nem cigarros, nem porra nenhuma! 

Desliguei. 

Como limpar este poema imundo?

sábado, 3 de agosto de 2013

Onde fica o lugar no redondo que move?

Sou subjetiva.
O resto 
- e o corpo -
são somente aparição
efeito da causa que paira
por baixo dos panos
por dentro das peles
ideia por entre a molécula
ideia que abarca a célula sou 
isso 
e você também é e
é obvio o subjetivo
e eu pergunto como explicar?


- fiquei presa numa frase -

e ainda pergunto como escapar?
numa dúvida besta bonita divago se leio
deitada sob o sol no dia ou sobre o sol na noite?

quando a resposta óbvia intrínseca que ouço é ao redor
(essa questão pertence à uma dimensão que ainda não toquei, não sei se estou bem das contas mas acho que é a quinta)
ao redor é o lugar é a resposta e é promessa bailarina às dicotomias
circular tudo 
pois tudo volta - pois morre e eis que 
tudo vem - pois nasce
circular é a volta
é a parte da curva é a bola e rola.
na primeira curva no vislumbre - te circular. em vão. coisas do infinito.
somem-se nos vãos do infinito. na curva. na volta. volta.

se sabemos?
então que estúpido o quadrado o partido a direita a religião a esquerda
e esse eu quando finca-se dentro do quadrado achando-lhe agudos os ângulos
raiz hipotética cega ofusca do vôo livre do salto dentro de tanto ar de tanto eu tonto
querendo o lindo e o redondo com as palavras pintando frases e essa parede branca
saio do quadrado afobado paro e vejo os lados dessa ciranda, óh como é multicor!

respeito o subjetivo que ele é palpável é tão comum mas é tão invisível
tô tranquilo no caminho mas porra que vontade de fumar um cigarrilho
meu objetivo tem ânsia e é com esmero que ergo esta ode ao subjectum
nesta noite num brinde o grito quieto e não acendo um cigarrilho e sim
calo-te eu identificado! objeto voador ao redor, ao redor, ao redor.
Transita-me o subjetivo ao redor e é maior no sonho e dentro.
Se você se deixar sonhar.

Um sonho ciranda ........ e ...... outra criança vai nascer.
E vai achar que o universo é um imenso campo de brincadeiras.

img.: Lucio Lopez Cansuet

"Quando se lida com as coisas ocultas e subjetivas e quando o assunto sobre o qual se escreve lida com o indefinível, então se encontra a dificuldade. Não é coisa difícil descrever a aparência pessoal de um homem, suas vestes, sua forma, e as coisas das quais se cerca. A linguagem satisfaz suficientemente quando se trata do concreto e do mundo da forma. Mas quando se tenta transmitir uma idéia de sua qualidade, caráter e natureza, imediatamente se depara com o problema do desconhecido, com aquela parte indefinível, não-vista que nós sentimos, mas que permanece em grande parte não-revelada e não compreendida mesmo pelo próprio homem. Como então iremos descrevê-lo por intermédio da linguagem? " Alice Bailey

Nomes científicos dos peixes amazônicos

Nem a laje nem o parque guardam você. Dela não cai, dele não sai. Seus cachos eram rabos de peixe. Sua paquera, o esconder da árvore, tímida. Que desce o olhar pela escada. Os olhos dos meninos-crianças eram da cor dos teus. E deu de parecer menina. 8 anos. Vamos ver se dormem os morcegos? E nos encher de gatos e pêlos? Decoramos os nomes científicos dos peixes amazônicos. Corremos pra cortar caminho. Cantamos de ouvir ecos. Havia alguma mão dada e curtos e grandes apertos. Eu parecia mãe dela e ela parecia você.

Img.: Lucio Cansuet

Respeitem os passarinhos. Não soltem bombas!

Mais carinho. Não jogue bombas nos passarinhos.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

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Regando a terra que tenho que cuidar, participando da terra, na responsabilidade de cavucar a própria pele, a terra revirar, estando minhoca viva e presente, molhando o próprio duto no solo, cavando pra dentro de si mesmo, fazendo encontrar a luz, a réstia do sol bebendo o espírito. Trator da vida, derrubando tudo sem destruir, reciclar, fazer o movimento brotar, deslocar para caber, o caule ou qualquer outra coisa aparente. Tudo que se cria, brota, renova e pode ser banal por ser mais uma plantação, mais uma criação, mas criar é um espanto, é novidade sempre que se pode ser. É preciso responsabilidade para se plantar, terraplanar, terra plana, plena, tudo o que se cria se oferenda, oferta pros deuses que não tem nome, que moram no esquisito silêncio que não podemos ouvir. Pode-se abrir o ouvido da terra e plantar eternamente no silêncio. Pode-se comer a terra, se enterrar com impulso pra baixo, mas terá de se nascer, brotar, resplandecer. O intuito de tudo deve ser coerente, não no que se faz sentido, mas tendo por obrigação que ser verdadeiro.

De tanta roda adentrei o livro vindouro

Me dispo do senso crítico toda manhã nula de planos, em que, à tarde, vago a mercê do clima e da nulidade de acontecimentos pois aqui, neste cenário, nada acontece, a não ser uma chuva esporádica que espanta os insetos ou a promessa do anoitecer - diário.
Amanhã - igual. As abelhas - iguais.
Esse ir sem sofreguidão ou ânsia é raridade - aceito.
Não respiro, suspiro. Não lamento, espero. Não critico. Cultivo - calo a voz e mudo o tom aos ouvidos. 
- Nada mais soa absurdo nas relações humanas. 
Religiões humanas. Absurdos.
Mas que abuso é tirar o entulho da tua obra e pôr na nossa rua ignorando que passantes podem sim ter compromisso com a beleza!
Vejo muito lixo espalhado. Vez em quando vou e cato. Hoje preferi poupar a sagrada energia e olhar pro céu. Merecido azul. 
Merecido pôr do azul. Marinhando, o azul enegrecendo. Crescendo pro negro. Acendo estrelas. Apago a vela. Rezo. E o dia segue com seu passado. E a vaca mugiu, e o bem te vi cantou um doce mucado. E neste instante fui feliz. Até que de tédio ligo a tv.
- Nada mais soa absurdo nas relações humanas. 
Políticas humanas. Absurdas.
Tudo soa adormecido pra noite despertar.
Oxalá quem me protege que assim sigo sorrindo. Só e não tão só e rindo.
Saiba meu rei que não empunho mais aquela espada. 
Carrego a bainha vazia cheia de ar e possibilidades.
Carrego palavras novas no bolso e toda essa imensurabilidade.
Suspeita do que seja tamanho pra deus. 
Suspeito ser deus entidade cósmica que faz som e movimento com varinha e energia.

No ventre, os vindouros, os que estão pra nascer. Letras palavras frases parágrafos.
Paralelepípedos arrancados. Terra arejada. Mais verde vim ver-te.
Estenda os braços ao azul tudo o que é verde. Alcancem todo o índigo anil todo imenso.
Agora a nuvem branca passeia. Passagem. Tempo andarilho. Andanças encantatórias.
Renascentes do Matança S.A. da Miséria S.A. da Ignorância S.A. da Hipocrisia S.A.
Matadouro rima com vindouro. Não rima. Rema. Não rima. Rema.
Seguimos marinhando. Evolução em degradê.
Sociedades anônimas ganham nomes autônomos. Rebento outro sentido. 
Animo um grande nome, extenso, uma palavra infinita. Infindável existir.
Resuma tudo sinteticamente, faça fácil entender. Fala fácil: danem-se as regras sintáticas!
Que fiquem o eu mais o você o que pode ser e o que virá, já, enquanto os que já eram vão todos tomar bem dentro do olho do cú do furação que varre tudo pro poço que serve de reservatório à matéria prima às novas formas que manifestar-se-ão. Da desmilitarização à adubação, plantação, distribuição.

Deus é boi brabo! Cês não tem noção. Deixa morrer prá cês verem e verão.

Eu vi.

- Deus olhou bem dentro do olho da alta testosterona da Política e a Polícia da Milícia e o Militante e o Militar e o desfile e as botas fazendo tum-tá tum-tá. Deus mandou: calem todos já. Estátua!

Img.: Ashley Percival

Clareira

Cavo uma clareira e nela cresço uma árvore. O fruto que dará é coisa pro final. Esse é só o começo. Cavo sozinha, mas com a energia doada pelos seres que tomam as avenidas, à tardinha, ao crescer. Estes transmutam cada molécula de ódio em esperança. Não sabem o que virá mas cavam, cavam e cavam o chão. Também daqui cavo e após cravar muita terra nas unhas abro considerável diâmetro. Derramo dentro as sílabas que comporão as palavras que unir-se-ão às frases que serão as leis antes impronunciáveis. Palavras-folhas. Frases-troncos. Essa árvore governará o mundo. Tal como nunca se deu. Tal como sempre será. E vale lembrar que sempre não é todo dia. Cavar cansa e não teve início só no ontem: cavo há eras. Mas agora tá pronto. Tomem cuidado antes de aterrar e irrigar: tem que ser terra das melhores e as águas, puríssimas.

Img.: Catrin Welz Stein

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Evolução em degradê

No dia em que os homens se uniram e elevaram o amor
à quem lhe ofereceu os braços e doou a boca ao beijo, tudo acordou melhor.

No dia em que entenderam que os que guerreiam só o faziam
porque não tinham a quem se dar, estenderam o amor até a profundeza
e o elevaram.

Nesse elevador o amor foi, comum, abarcando-nos, conduziu-nos até a galáxia central ao redor da qual gira esta que temos por nossa. De retorno, em pane extasiada, esquecidos dos maltratos, cada qual zelou a terra e tudo foi pra sempre melhor. Fim. 

Início. Começa assim:

O rosa amou o marrom
O branco envolveu o preto
O amarelo viu que ajudava o vermelho a ser laranja.
E o verde com o azul deu o tom e som ao planeta novo.

Numa volta completa o futuro virou presente e nunca mais houve passado.
O amor era agora. E como ao mesmo tempo era, é e será; o tempo, caduco, deu nó nas pernas contorcendo todos os calendários até regressarem ao pó de obsoletos livros de história. Roídos. Carcomidos. Erguidos na forma humana de um homem só que quando ergueu os braços desse barro recém formado e ofertou a boca crua ao beijo alheio outros homens vieram, se uniram e lhe estenderam o amor que tinham trazido das profundezas. Uma mulher! A força ficou delicada. A delicadeza, mais forte.

Tudo muito lento. Extenso num tempo lúcido. Era uma evolução em degradê. De uma era que não tinha número nem se contava em anos.